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136 LIVRO V DA HISTORIA DE S. DOMINGOS<br />
gia, que fazia movimento notável, e tal que lhe cliamavão os mesmos<br />
com termo, e lingoaj^^em piierii: el Evangeliza<strong>de</strong>ro.<br />
Crecendo nos aniios aífeiçooa-se á casa, on<strong>de</strong> elle, e a niãl comião o<br />
pão, pedio o liabiio, terçou por elle pobreza, e habilida<strong>de</strong>. Acreditou<br />
logo sen noviciado com pedir ao Mestre licença pêra partir sua pi lança<br />
com a mãi. Em huma só obra duas virtu<strong>de</strong>s: pieda<strong>de</strong> com quem o ge-<br />
rou, abstinência comsigo. Nos princípios tomou apellido <strong>de</strong> Sarria por<br />
alguma relação que teria com Galiza. Gomo tinha já fama <strong>de</strong> hábil foi<br />
mandado apoz a profissão ao Gollegio <strong>de</strong> S. Gregório <strong>de</strong> Valhedolid. Com<br />
o estudo <strong>de</strong>scobrio engenho, juizo, madureza, e adiantou em tudo tanto,<br />
que com poucos annos <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong>u gran<strong>de</strong> letrado, e famoso prega-<br />
dor. Tornou passado o estudo pêra a natureza, e Convento <strong>de</strong> que era<br />
íiiho, e foi exercitando o púlpito coin tal espirito, que ouvindo-o hum<br />
gran<strong>de</strong> servo <strong>de</strong> Deos, e estremado pregador, disse por elle, que não<br />
cuidava menos, senão que assi como Santo Thomas viera ao mundo pêra<br />
alumiar entendimentos, nacera também <strong>Fr</strong>ei Luis pêra abrazar corações.<br />
E na verda<strong>de</strong> fui verda<strong>de</strong>ira profecia. Porque proce<strong>de</strong>ndo o tempo, assi<br />
nas praticas particulares, como no púlpito, e em seus escritos mostrou<br />
ser hum estremo n"aquella parte que nas da oração tem o primeiro, e<br />
mais essencial lugar, que he mover, e persuadir. Porque sendo todas<br />
as outras, e a mesma oração or<strong>de</strong>nadas só ao fim <strong>de</strong> obrigar os ouvin-<br />
tes a se <strong>de</strong>ixarem vencer do que ouvem, claro fica que melhor orador<br />
será quem d"esta mais tiver. Ajuntava se que já nesta primeira ida<strong>de</strong> era<br />
conhecido por recolhimento, oração, e penitencias: e como sobia ao<br />
púlpito a persuadir o que fazia, sahia a lingoagem ar<strong>de</strong>ndo em fogo, e<br />
tão viva, e affervorada que fazia maravilhosos effeitos.<br />
Aconteceo-lhe hum dia em hum auditório <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong> po-<br />
vo (dizem que foi em Córdova) ou fosse por ser mandado pregar <strong>de</strong><br />
repente, ou por outra rezão que não consta (1): posto no púlpito tirou <strong>de</strong><br />
hum Missal que levava, e por ser em sesta feira da semana Santa come-<br />
çou a ler : Passio Domini Nostri Jesu Cliristi : e sem ler mais, foi <strong>de</strong>-<br />
clarando que cousa era paixão, quem era o que pa<strong>de</strong>cia, e porque pa<strong>de</strong>-<br />
cia. Fez tamanha impressão o novo modo <strong>de</strong> propor, forão os termos<br />
tão levantados, e sintidos, pronunciados com tanto encarecimen-<br />
to, que o povo todo arrebatado, e compungido entrou em hum pranto<br />
nunca visto, e tal que nem o pregador teve lugar <strong>de</strong> hir adiante, nem o<br />
(l; M.<strong>Fr</strong>. <strong>Fr</strong>ancisco Diago na vida d 'este Padre cap. 4.