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PAOTICULAB DO REINO DE PORTrCAL Í33<br />
esta penitencia hum exercício não menos pesado pêra forças Ião qnebi'a-<br />
das da ida<strong>de</strong>, o qual era varrer por sua mão o claustro do Convento<br />
duas vezes cada semana : e não se contentava com menos que varrer lambem<br />
o paíeo d'e]le. Como era já havido por incapaz <strong>de</strong> officio certo, o<br />
por isso não fazia nenhum, dizia que folgava <strong>de</strong> merecer nisto o pão que<br />
comia, pois era vivo pêra pejar huma celIa, e hum lugar no refeitório<br />
e morto pêra servir, e trabalhar, Conta-se d'elle, que até o ultimo dia<br />
<strong>de</strong> tão larga carreira conservou no sembrante huma composição <strong>de</strong> tanta<br />
modéstia, e gravida<strong>de</strong>, e no trato, e conversação tanta mansidão, e so-<br />
frimento, que ei'a hum particular, e aprazível espectáculo: porque não<br />
representavão menos aquelles noventa annos, que hum novicinho dos<br />
mais mortificados, e melhor criados do Convento,<br />
Deve-se seguíido lugar por antiguida<strong>de</strong> <strong>de</strong>spois <strong>de</strong> <strong>Fr</strong>ei Pedro ao Pa-<br />
dre Mestre <strong>Fr</strong>ei André <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong>, natural da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora, <strong>de</strong> geração<br />
nobre, e fdho <strong>de</strong> habito do Convento, e que nelle foi noviço em<br />
vida do Irmão <strong>Fr</strong>ei Pedro, como parece do que atras temos contado.<br />
Costumavão n^aquelle tempo alguns <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>s, que tinhão <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> sabei-,<br />
e possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bolsa, sahirdo Reino; e hir-se estudar a Paris, pola falia<br />
que havia <strong>de</strong> estudos em Portugal. Assi o fez <strong>Fr</strong>ei André, e ponjue ti-<br />
nha boa habilida<strong>de</strong> tornou aproveitado nas letras, principalmente nas<br />
humanas, e na lingoa Latina, com a qual <strong>de</strong>ixou escritas algumas obras<br />
que hoje são <strong>de</strong> muita estima. Entre ellas foi huma a vida <strong>de</strong> S. <strong>Fr</strong>ei<br />
Gil <strong>de</strong> Santarém, que <strong>de</strong>spois se imprimio em Paris : e he a mesma que<br />
nós seguimos nesta historia. Também tirou á luz algumas antiguida<strong>de</strong>s<br />
da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora, com juizo, e curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bom antiquário : e com-<br />
poz hum olFicio <strong>de</strong>S. Gonçalo <strong>de</strong> Amarante, com huns hymnos <strong>de</strong> tão fina<br />
poesia, que se sente n^ella o cheiro da melhor, e mais polida dos cele-<br />
i^res Poetas antigos. Em Portuguez escreveo a vida do santo leigo <strong>Fr</strong>ei<br />
Pedro, <strong>de</strong> quem, como d'ella consta, foi particular conhecido, e amigo,<br />
E por todas estas rezões nos pareceo digno d'esta memoria.<br />
D"este Convento era filho, e n^elle vivia, e d^elle foi pêra o Ceo no<br />
anno <strong>de</strong> i574 o Padre <strong>Fr</strong>ei I*edro <strong>de</strong> Montemor, velho na ida<strong>de</strong>, e en-<br />
velhecido em virtu<strong>de</strong>s, e nos santos exercícios d'ellas. Vivia huma vida<br />
commum, em conversação igual, e religiosa; sem singularida<strong>de</strong>s que em<br />
publico o fizessem notável: mas a alma, que pêra com Deos era singu-<br />
larmente santa, mostrou no cabo os bons empregos da longa vida. Es-<br />
perava já pola ultima hora em remate <strong>de</strong> huma comprida doença, arma-