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Da Vida de São Domingos – Fr. Luís de

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112 LIVRO V DA mSTORIA DE S. DOMINGOS<br />

CAPITULO IV<br />

Vai <strong>Fr</strong>ei Pedro mudado pêra Eoora, dd-se-lhe cuidado da portaria, e dos<br />

pobres, lieferem-se alguns meios que buscava pêra ser <strong>de</strong>sprezado ^ e<br />

abatido.<br />

Mudou <strong>Fr</strong>ei Pedro a terra, mas nâo mudou o oíTicio. Porque o Prior<br />

como sabia quem tinha n'elle pêra tudo o que era dar boa conta da entrada,<br />

e sabida <strong>de</strong> íium gran<strong>de</strong> Convento, que lie o posto da portaria, em que<br />

consiste gran<strong>de</strong> parte da honra, e credito da Rebgião, logo lhe entregou<br />

o cargo, e juntamente o cuidado dos pobres a elle annexo. Fez <strong>Fr</strong>ei<br />

Pedro hum, e outro officio com tanta humilda<strong>de</strong> junta com muita pru-<br />

dência, que ficou perpetuado em ambos, e n'eiles viveo, e morreo. Era<br />

sofrido, e juntamente inteiro: fácil, e também esquivo: sofrido com os<br />

coléricos, inteiro com os <strong>de</strong>masiados, fácil pêra os mo<strong>de</strong>stos, e muito<br />

esquivo pêra os inquietos, e contra qualquer mâo exemplo, e em fim<br />

íiel a Deos em tudo, e á Religião. Acontecendo tralarem-no asperamente<br />

<strong>de</strong> palavra alguns Religiosos, humas vezes polo tentarem, outras resen-<br />

tidos da <strong>de</strong>masiada cautela com que se havia no officio, nunca se lhe<br />

ouvio reposta <strong>de</strong> impaciência: contra os ditos ou feitos, que o pr-diãoof-<br />

fen<strong>de</strong>r, usava sempre <strong>de</strong> humas palavras do monte, que muitos atriuuião<br />

a ru<strong>de</strong>za jiilgando-o d'ellas por ignorante, e grosseiro. E na verda-<br />

<strong>de</strong>, ou erão ditas pêra mitigar a cólera aos apaixonados, com matéria <strong>de</strong><br />

riso, ainda que fosse com <strong>de</strong>scrédito seu: ou era artificio santo pêra se<br />

fazer <strong>de</strong>sprezar, e ter em pouca conta (filosofia do Ceo, encontrada em<br />

todo com a natureza humana, amiga <strong>de</strong> se levantar, e engran<strong>de</strong>cer, e<br />

honrar) respondia : Mal <strong>de</strong> meu peccado, ora foUja-te tu com isso. Se o<br />

colérico se ria como quem ouvia hum <strong>de</strong>spropósito, elle fazia o mesmo,<br />

e a.'ab;iva-se o <strong>de</strong>sgosto. Se acontecia acen<strong>de</strong>r-se mais, então mostrava<br />

verda<strong>de</strong>ira religião, lança va-se-lhe aos pés sem <strong>de</strong>tença, com a vénia fei-<br />

ta, e por huina via, ou por outra fazia cessar a ira, e a contenda.<br />

Mas vki-se n'elle que tinha particular gosto <strong>de</strong> ser maltratado, ainda<br />

que fosse contra toda rezâo. Succe<strong>de</strong>o lium dia vir o Prior <strong>de</strong> fijra, e<br />

chegando â portaria, em tempo que <strong>Fr</strong>ei Pedro andava polo Convento<br />

cm busca do Supprior, pêra negocio <strong>de</strong> sua obrigação, tocou três ou<br />

quatro vezos a campainha; e como faltou quem abrisse, foi entrar pola<br />

Igreja. Era Prior <strong>Fr</strong>ei Pedro Ferreira, homem austero, e muito obser-

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