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PAHTICULAR DO REINO DE PORTUGAL 49<br />
<strong>de</strong>nte, e em seu serviço constante, acodia-lhe, com gran<strong>de</strong>s, e extraor-<br />
dinários favores. 11(3 cousa certa, que discorrendo por todos os lugares<br />
<strong>de</strong> Anlredouro, e Minho vio confirmada sua doutrina com gran<strong>de</strong>s mi-<br />
lagres, dos quaes não chegou aos tempos presentes, a pontualida<strong>de</strong> dos<br />
modos, e numero, senão <strong>de</strong> mui poucos, chegando-nos a certeza que<br />
forâo muitos, como se verá polas memorias, que ao diante apontaremos.<br />
Persuadia, e aconscllíava hum dia a hum homem mancebo, que per-<br />
doasse certo agravo, a quem conhecido <strong>de</strong> sua culpa lhe queria pedir<br />
com humilda<strong>de</strong> perdão, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo lh'o mandava pedir por elle. Per-<br />
<strong>de</strong>o-lhe o respeito o agravado, dando. feros por resposta, e renovando<br />
com ira propósitos <strong>de</strong> vingança. Disse-lhe o Santo que olhasse por si<br />
que aquillo era obra do <strong>de</strong>mónio, em que andava revestido. Pagou a<br />
advertência santa com segunda resposta, nada menos soberba que a<br />
primeira. Mas não erão beiíí passados três dias, quando o pobre se vio<br />
atormentado do enemigo infernal, e conheceo cora seu mal, a verda<strong>de</strong><br />
do bom coiíselheiro. Yem-se a seus pés com lagrimas, e vergonha; pe<strong>de</strong><br />
remédio, e alcançou-o fazendo o Santo oração por elle. Deixou-o logo o<br />
<strong>de</strong>mónio livre: e assi <strong>de</strong>ixou a muitas outras pessoas, que atormentava,<br />
só com a voz, e império <strong>de</strong> <strong>Fr</strong>ei Lourenço. <strong>Da</strong> mesma maneira se es-<br />
creve que obe<strong>de</strong>cião ao tacto <strong>de</strong> suas mãos as enfermida<strong>de</strong>s, e atè a<br />
mesma morte ; o que se vio em doas homens que sendo passados da<br />
vida, tornarão a ella por sua oração, e merecimentos. E como tudo o<br />
mais que po<strong>de</strong>mos contar em matéria <strong>de</strong> milagres, fica sendo <strong>de</strong> menos<br />
consi<strong>de</strong>ração á vista <strong>de</strong> mortos resucitados, diremos somente hum. Per-<br />
<strong>de</strong>ra hum pobre Clérigo a vista <strong>de</strong> ura olho, por caso acci<strong>de</strong>ntal : sintia<br />
muito a falta, persuadio-se, polo que sabia das gran<strong>de</strong>s virtu<strong>de</strong>s do Santo,<br />
que se lhe posesse suas mãos, receberia saú<strong>de</strong>: foi-se a elle com esta<br />
confiança, fez-lhe sua petição chea <strong>de</strong> fé, e não se enganou: porque da-<br />
li tornou são.<br />
Não <strong>de</strong>vemos ter por menos milagre que os gran<strong>de</strong>s a emprcza que<br />
acabou da ponte, que chamão <strong>de</strong> Cavez. Andava pregando por aquellas<br />
partes; vio com seus olhos o trabalho, ,e perigo com que se va<strong>de</strong>ava o<br />
rio (e he o mesmo Tharaega, que muitas legoas adiante passa por Ama-<br />
rante, por baixo <strong>de</strong> outra ponte, obra <strong>de</strong> S. Gonçalo, que lhe <strong>de</strong>u o no-<br />
me) rio grosso <strong>de</strong> agoas, e furioso a maior parte do anno : consi<strong>de</strong>rou<br />
a necessida<strong>de</strong> que os naturaes tinhão <strong>de</strong> o passar a miu<strong>de</strong>, pêra seus<br />
serviços: compa<strong>de</strong>ccrão-sc as entranhas que ardião em charidado. Pa-<br />
VOL. u 4