Da Vida de São Domingos – Fr. Luís de

i38 LIVRO V DA HISTORIA DE S. DOMINGOS
mendou-se-lhe o cargo. D'esta visinbnnça de Portugal entrou por elle a
fama de suas pregações, e vida; e chegando ao Infante, e Cardeal dom
Anrique â cidade de Évora, da qual linlia aceitado a prelacia, não tar-
dou em pedir ao Padre Geral que lli'o desse pêra esta Província, nem se
contentou com menos que trazel-o perfilhado logo polo Convento da mesma
cidade. Que por essa rezão lhe coube aqui seu lugar. N'esta cidade
procedeo de maneira, que sabidamente foi de grande utilidade pêra todo
o Arcebispado, e não menos pêra o Reino. Porque com as pregações,
confissões, conselhos, e devação em que occupava os dias, servia aos
presentes ; e com os livros que compunha, a que dava as noites, aco-
dia aos ausentes naturaes, e estranhos. Por maneira, que nenhuma hora
sua deixava de ser fructuosa.
Com taes occupações se fez por estremo amado do Cardeal, e del-
Rei dom João seu irmão, e de todos os Principes do Reino, que então
erão muitos; e de seu conselho, e letras se ajudavão nos negócios mais
graves. D'aqui foi tirado pêra Provincial d'esta província, quando aca-
bou ávida antes de acabar seu quadriennio, o Mestre Frei João de Sali-
nas; e foi eleito por fim de Outubro do anno de 1557. Teve esta honra
huma particularidade bem de estimar; que havendo muitos annos que
a província desejava, e procurava ser governada por sujeitos IVrtu-
guezes; porque havia n'ella pessoas de grande talento; os mesmos,
que podião jiretender o cargo, forão os que lhe derão o voto. Estimou
o Cardeal a honra do pregador, porque vio n'ella acreditado seu juizo.
Mas não o foi menos no cuidado com que o Mestre Frei Luís- exercitou o
cargo. Á sua diligencia devemos o Convento que a Ordem tem na grande
villa de Montemor o Novo, como diremos em seu lugar ; á mesma
deve o Convento de Lisboa o Mosteiro, e Igreja que hoje possue de An-
sede como atrás fica contado ; e a cidade de Braga, e o Reino todo ll>e
está obrigado poios bens, qne resultarão da eleição do grande Arcebis-
po dom Frei Rertolameu dos Marlyres. Porque elle foi o promotor, e
principal conselheiro d'ella: sendo assi, que a Rainha dona Caterina, que
ficou governando o Reino por falecimento del-Rei dom João o terceiro,
e em nome del-Rei dom Sebastião seu neto, logo se sérvio d'elle, e o
fez seu confessor. E também sabemos que no Convento de S. Sebastião
de Setuvel teve tanta mão, ainda que foi começado por mandado del-Rei
dom Sebastião, sendo Provincial o Padre Frei Estevão Leitão, que elle
foi o que lhe lançou a primeira pedra, e assislio nos princípios da fa-