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Da Vida de São Domingos – Fr. Luís de

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PARTICULAR DO IIBINO DE PORTUGAL 155<br />

<strong>de</strong>za <strong>de</strong> rezoes, e conceitos: e <strong>de</strong> tudo isto tinha tanto, que não podia<br />

acabar comsigo fazer sermão curto: e só d'isso era tachado. Porque fal-<br />

tão n'esta ida<strong>de</strong> os entendimentos <strong>de</strong> hum Tui lio, que sendo pergunta-<br />

do qual lhe parecia melhor <strong>de</strong> todas as orações <strong>de</strong> Demosthenes, res-<br />

pon<strong>de</strong>o que a mais comprida. Digna reposta <strong>de</strong> tão gran<strong>de</strong> juizo. Por-<br />

que na. verda<strong>de</strong> nunca o que <strong>de</strong> sua natureza he bom, po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r, ou<br />

danar-se por muito: nem o que he máo, melhorar por pouco. Como pre-<br />

gava com obras e palavras, era sua pregação fogo que abrasava, espada<br />

que penetrava. Assi era estimado, e buscado <strong>de</strong> todos, e particularmen-<br />

te amado do gran<strong>de</strong> Prelado dom Theotonio <strong>de</strong> Bragança.<br />

Como era <strong>de</strong> continuo occupado n'esto ministério, sintia não po<strong>de</strong>r<br />

acudir aos exercícios <strong>de</strong> penitencia, tanto quanto seu espirito o inclina-<br />

va. E era ponto, em que ordinariamente fazia muita força, amoestar a<br />

todos prevenção, e provimento <strong>de</strong> penitencia pêra o dia da morte, on-<br />

<strong>de</strong> he obrigação satisfazer <strong>de</strong> contado: affirmando com exemplos dos<br />

Santos, que até aos mais perfeitos (não só aos pecadores) convinha fa-<br />

zer alforge d'ella, e não guardar a paga pêra a outra vida. N'este dis-<br />

curso se affervorou hum dia com gran<strong>de</strong> vehemencia, e por remate fez<br />

huma exclamação a Deos comaffeito, e palavras sabidas da alma, pedin-<br />

do-lhe que fosse servido dar em sua vida algum meio, com que nella<br />

pagasse as penas, que por seus peccados havia <strong>de</strong> pa<strong>de</strong>cer no Purgató-<br />

rio. Não <strong>de</strong>spreza o Senhor petições justas, porque d'elle nace o espiri-<br />

to pêra sabermos pedir: e não <strong>de</strong>via ser esta sua só daquelle dia. Pas-<br />

sado pouco tempo, começou a sintir-se indisposto, passou alguns annos<br />

cahindo, e levantando. Em fim veio a cahir <strong>de</strong> todo com hum mal <strong>de</strong> tal<br />

calida<strong>de</strong> (como ha tantos, e tão vários pêra hum miserável corpo hu-<br />

mano) que sem o acabar, lhe acabou, e jarretou todos os membros, sin-<br />

tidos, e potencias, e <strong>de</strong>ixou-lhe só sinal <strong>de</strong> vida no movimento do pulso,<br />

e olhos: ficou era tudo o mais como hum tronco, provido <strong>de</strong> espirito<br />

vegetativo, recebendo a mantença, se lha davão: e não na pedindo, se<br />

lhe faltava. Foi caso novo, e nunca ouvido, que passou neste estado<br />

sem mudança seis annos inteiros: e no cabo <strong>de</strong> tão longa, e extraordi-<br />

nária penitencia, foi Deos servido que tornasse em si pêra morrer. Era<br />

por fim <strong>de</strong> Dezembro do anno que acabava <strong>de</strong> 1600, e em dia <strong>de</strong> S.<br />

João Evangelista: notava o enfermeiro, que havia dous dias que quasi<br />

não comia nada do que lhe dava, e tirava muito do peito com o fôlego<br />

apresurado; pareceo-lhe que era acabar, chegou-se a elle, bradou-lhe di-

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