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ââ4.' LIVRO Vi DA ÍIIStORIA DK S. DOMINGOS<br />
<strong>de</strong> abundância, e bnrateza dos friiitos da terra, junta ao pouco numero<br />
<strong>de</strong> povo que então liavia no Reino pêra os gastar, faziao riqueza do<br />
que hoje quasi não lie dinheiro, nem fazenda consi<strong>de</strong>rável. Mas porque<br />
esta conta, e redução da moeda antiga ao valor da presente nos ha <strong>de</strong><br />
servir pêra o diante, e alguns escritores falão n'ella com menos adver-<br />
tência, mostraremos a certeza das livras mais em particular. Sendo assi<br />
que o discurso dos annos faz continuas mudanças em tudo o da terra,<br />
isto he certo, que em nenhuma cousa as vemos maiores, que no uso<br />
da moeda, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo d'eUa todo o trato, e governo da vida humana.<br />
A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Roma, que se manteve quinhentos e oitenta e cinco annos<br />
sem conhecer outra moeda mais que <strong>de</strong> cobre, e a primeira que bateo<br />
<strong>de</strong> prata, foi cinco annos antes da primeira guerra Púnica (1): lemos que n'es-<br />
se cobre fez gran<strong>de</strong>s mudanças levantando-lhe o preço, e a<strong>de</strong>lgaçando a<br />
moeda tanto em peso, que por duas vezes <strong>de</strong>sempenhou a Republica<br />
huma na primeira, outra na segunda guerra Púnica. Ao revez o vimos<br />
n'este Reino os quo nos lembramos do anno <strong>de</strong> 572, no qual el-Rei dom<br />
Sebastião com gran<strong>de</strong> conselho abateo o mesmo cobre <strong>de</strong> maneira, que a<br />
moeda que valia <strong>de</strong>z, ficou em três, e a este respeito todas as mais. Enchia-se<br />
o Reino <strong>de</strong> cobre, fugia a prata, e ouro: remediou-se o mal com a baixa.<br />
E comtudo á vista <strong>de</strong> tal exemplo vemos em Gastella <strong>de</strong> vinte annos<br />
pêra cá subida a mesma moeda (chamão-lhe lá <strong>de</strong> velhon) ao dobro do<br />
que antes valia: por maneira, que cada arrátel <strong>de</strong> cobre em sahindo sine-<br />
lado dos crunhos Reaes, vai três vezes mais do que se acha nas tendas<br />
em pasta. Assi he certo, que como Espanha tem mais ouro, e prata,<br />
que todas as mais Províncias da Europa: e pola mesma rezão he maior<br />
sua valia n'ellas, que n'ella : po<strong>de</strong>mos dizer, que todas ellas batem co-<br />
bre pêra Espanha: e Espanha ouro, e prata pêra ellas: com gran<strong>de</strong> perda<br />
nossa, e proveito do estrangeiro, a quem a cobiça, e ganho excessivo<br />
insinão a ser moe<strong>de</strong>iro do cobre, e passador <strong>de</strong> huma, e outra moeda.<br />
Seja exemplo que vimos por nossos olhos em Argel, no anno <strong>de</strong> 577 em<br />
que ali fui cativo, correr escudos, e reales <strong>de</strong> oito, e <strong>de</strong> quatro em can-<br />
tida<strong>de</strong> admirável, e o preço era <strong>de</strong>zaseis reales o escudo d'ouro, doze<br />
os reales <strong>de</strong> oito, seis os <strong>de</strong> quatro: sendo a distancia <strong>de</strong> não muitas le-<br />
goas <strong>de</strong> Espanha, e o commercio muito continuo. Por rezão d'estas al-<br />
terações, e danos forão sempre os Reis <strong>de</strong> Portugal acodindo com or<strong>de</strong>-<br />
nações, e <strong>de</strong>clarações importantes, como parece das que el-Rei dom Ma-<br />
li) riin. Malur. Hisl. 1 33. c. 3.<br />
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