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Da Vida de São Domingos – Fr. Luís de

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PARTICULAR DO REINO DK PORTIT.AL 263<br />

(ies, e como sepultara do mesmo, que se preten<strong>de</strong> tenha vida, e gran<strong>de</strong><br />

luz, e aparato sobre a terra. Não oíferece pequena duvida esta questão:<br />

mas soita-se com a <strong>de</strong>terminada vonta<strong>de</strong>, que el-Rei teve em não alon-<br />

gar o sacrifício do sitio, em que recebera a mercê, segundo o <strong>de</strong>clarou na<br />

verba do testamento, que referimos: e havendo <strong>de</strong> ser a fabrica no lugar,<br />

em que começou a batalha (no qual logo mandou levantar huma<br />

ermida a S. Jorze, que hoje dura) ou em seus contornos, não offerecia<br />

a comarca toda mais accommodado assento que este, que a carta <strong>de</strong>l-Rei<br />

chama <strong>de</strong> apar da Canoeira. Porque sendo a terra seca por todas estas<br />

partes, aqui achou huma boa ribeira <strong>de</strong> agoa <strong>de</strong> todo o anno pêra ser-<br />

viço do Mosteiro: e logo abaixo pêra vista huma estendida, e fértil veiga<br />

regada' da mesma, e d'outra maior ribeira. E fez conta, que on<strong>de</strong> hou-<br />

vesse agoa, e gente curiosa não faltaria todo género <strong>de</strong> frescura: e quanto<br />

â baixeza do sitio, essa venceria com a eminência, e gran<strong>de</strong>za da obra,<br />

que imaginava: a qual por ventura lhe fazia também crer, que chamaria<br />

a si tanto numero <strong>de</strong> visinhos, que viessem a formar huma illustre po-<br />

voação. A humida<strong>de</strong> affirmavão os Architectos, que enxugaria com o edifício,<br />

ao menos quanto bastasse pêra não ser prejudicial á saú<strong>de</strong>. Enão<br />

se enganarão; porque se bem a casa tem ainda muito <strong>de</strong> humida<strong>de</strong>, não<br />

ficou enferma. Acrecentava-se ficar em distancia <strong>de</strong> pouco mais <strong>de</strong> meia<br />

legoa <strong>de</strong> S. Jorze, on<strong>de</strong> foi o primeiro rompimento da batalha: e com<br />

laes consi<strong>de</strong>rações juntas ficarão vencidas todas as mais difficulda<strong>de</strong>s.<br />

Requeria esta machina pêra a po<strong>de</strong>rmos bem representar aos olhos<br />

do leitor, obra mais <strong>de</strong> pincel, que <strong>de</strong> pena, mais pintura, que <strong>de</strong>scri-<br />

pção historiada; porque toda a narração fica curta nas excellencias d'el-<br />

la, visto não po<strong>de</strong>rmos alcançar com a escritura particularizar miu<strong>de</strong>zas,<br />

que he cousa muito fácil a quem usa <strong>de</strong> cores, e sombras: sendo assi<br />

que o Historiador offerece as cousas por maior, da mesma maneira que<br />

o pintor em virtu<strong>de</strong> da arte <strong>de</strong>scobre as mesmas tanto polo miúdo, que<br />

em nada falta. Em prova d' isto tem acontecido, que alguns estrangeiros<br />

pessoas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> juizo, que em suas terras teverão noticia d'esta fa-<br />

brica por narração copiosa, e pontual <strong>de</strong> <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>s nossos, succe<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>s-<br />

pois verem-na com seus olhos, fizerão esiremos <strong>de</strong> espanto; porque<br />

acharão lhes <strong>de</strong>scobria mais a vista, do que po<strong>de</strong>rá referir a fama. E<br />

erão homens que tinhão visto, e consi<strong>de</strong>rado tudo o bom <strong>de</strong> Europa.<br />

Com esta salva daremos relação d'ella, e será com a maior clareza, e<br />

particularida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>rmos.

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