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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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cantavam em honra dos seus ídolos, chamados Maracá, que são matracas feitas de cabaças, os<br />

quais talvez lhes houvessem profetizado que iriam fazer-me prisioneiro” 88 .<br />

No dia seguinte as mulheres tiraram Staden para o pátio, onde algumas o seguraram –<br />

ele achou que ia morrer, estava procurando o ibirapema (tacape cerimonial) – não para matá-<br />

lo, mas para tosquiar-lhe com “uma lasca de cristal presa a um instrumento, que parecia um<br />

ramo encurvado” 89 , primeiro as sobrancelhas e depois a barba, mas esta Staden não deixou<br />

que a raspassem pedindo que o matassem com ela, contudo alguns dias depois sua barba foi<br />

cortado com uma tesoura que os franceses haviam permutado com os índios.<br />

Alguns meses depois de estar em poder dos tupinambás, Staden acompanhou seu dono<br />

até a aldeia de Cunhambebe, onde viu perto da choça desse chefe, quinze cabeças espetadas<br />

de inimigos que este tinha matado. Este era um costume, de algumas etnias indígenas, o de<br />

pendurar a cabeça de seus inimigos mortos em estacas na entrada das aldeias, cujo objetivo<br />

era imputar medo em seus inimigos.<br />

Com relação à preparação da bebida – cauim – que os indígenas consideram<br />

indispensável para a r<strong>ea</strong>lização de um ritual antropofágico, Staden relata o modo como ele é<br />

preparado pelas mulheres:<br />

102<br />

“Tomam raízes de mandioca e cozinham grandes paneladas cheias. Uma vez cozida, retiram a mandioca<br />

da panela, passam-na em outras, ou em vasilhas, e deixam-na esfriar um pouco. Então se assentam as<br />

meninas perto, mascam-na, colocando-a numa vasilha especial. Quando todas as raízes cozidas estão<br />

mastigadas, põem de novo a massa na panela, deitam-lhe água, misturam ambas, e aquecem de novo.<br />

Têm para tal vasilhas adequadas, que enterram a meio no chão, e que se empregam como aqui os tonéis<br />

para vinho e cerveja. Despejam dentro a massa e fecham bem as vasilhas. Isto fermenta por si e fica<br />

forte. Deixam-na assim repousar dois dias. Bebem-na então e com ela se embriagam. É grossa e tem<br />

bom gosto. (…) cada uma das cabanas prepara sua própria bebida e quando uma aldeia quer festar, o<br />

que acontece habitualmente uma vez por mês, reúnem-se primeiro em uma cabana onde bebem tudo e<br />

passam a outro até acabar tudo” 90 .<br />

Sobre o modo de organização dos índios, Staden relata que:<br />

“Os selvagens não têm governo, nem direito estabelecidos. Cada cabana tem um superior. Este é o<br />

principal. Todos os seus principais são de linhagem idêntica e têm direito igual de ordenar e reger.<br />

Conclua-se daí como quiser. Se um sobressai dentre os outros por feitos em combate, ouve-se-lhe mais<br />

do que aos outros, quando empreendem uma arremetida guerreira, como Cunhambebe. Fora disso<br />

nenhum privilégio observei entre eles, a não ser que os mais moços devem obediência aos mais velhos,<br />

como exige o seu costume” 91 .<br />

Também relata que eles não possuem propriedade particular, e não conhecem o<br />

dinheiro, sendo que o seu maior tesouro são as penas de pássaros: “Quem as têm muitas, é<br />

88 Ibid., p. 88.<br />

89 Ibid., p. 90-91.<br />

90 Ibid., 165-166.<br />

91 Ibid., p. 164.

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