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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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que os portugueses ao se aliarem aos índios temiminós, tinham por objetivo a conquista do<br />

Rio de Janeiro e a eliminação dos franceses, já os índios tinham por objetivo regressar para<br />

suas terras e dar combate a seus inimigos os tamoios 93 – além da guerra, os europeus e os<br />

indígenas faziam alianças com base no escambo e na troca de mulheres (cunhadismo).<br />

No início do século XVI os portugueses r<strong>ea</strong>lizaram várias viagens ao litoral brasileiro,<br />

onde os habitantes nativos olhavam para eles com perplexidade, porém amistosamente, pois<br />

nesse período os portugueses trocavam com os indígenas, na base do escambo, quinquilharias<br />

por pau-brasil. Contudo, com o avanço da colonização, o escambo passou a tornar-se<br />

desvantajoso aos portugueses, na medida em que se saturou o mercado de quinquilharias e os<br />

nativos passaram a voltar seu interesse a armas de fogo e ferragens, cujo custo era mais<br />

elevado. A utilização destes instrumentos permitia aos indígenas executar suas tarefas com<br />

maior rapidez, oferecendo-lhes assim maior tempo livre, o que levava a crer serem eles<br />

“menos do que racionais em termos de maximização econômica” 94 . O escambo com os índios<br />

era tido também como um tanto quanto inseguro, ao passo que: “os aborígines eram homens<br />

econômicos, imersos em um mercado de trabalho auto-regulável e prontos a tomar decisões<br />

com base nos interesses pessoais ou comunitários” 95 . Outro fator de grande importância na<br />

transição “do escambo a escravidão” foi o aumento do número de colonos, que passaram a<br />

competir por mão-de-obra indígena com os exploradores de pau-brasil, por causa da<br />

introdução do sistema de donatarias (capitanias hereditárias), que trouxe o negócio do açúcar<br />

para o Brasil, o qual passou a exigir novas necessidades, a fim de assegurar a mão-de-obra<br />

necessária à lavoura açucareira, que não eram mais atendidas pelo esquema de escambo, que<br />

até então era amplamente praticado com o intuito de conseguir “pau-brasil, alimentos e força<br />

de trabalho para a construção das cidades” 96 .<br />

A resistência dos indígenas ao novo tipo de relação com os europeus, o da escravidão,<br />

deu-se devido a fatores culturais presentes em seu mundo. De certa forma, o escambo poderia<br />

ser enquadrado em seus padrões culturais tradicionais, diferentemente do trabalho na lavoura<br />

do açúcar, uma vez que na mentalidade nativa, a agricultura era trabalho para mulheres. No<br />

caso tupinambá, por exemplo, não era dada muita importância aos excedentes alimentícios, e<br />

a troca destes produtos por coisas que lhes seriam úteis, tais como um machado, era vantajosa.<br />

Não pareceria coerente e proveitoso a eles fornecer seu trabalho em troca de nada, conforme<br />

93 Ibid., p. 45.<br />

94 SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: Engenhos e escravos na sociedade colonial 1550-1835. São<br />

Paulo/ Brasília: Cia. Das Letras/ CNPq, 1988, p. 45.<br />

95 Ibidem.<br />

96 Ibid., p. 44.<br />

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