20.04.2013 Views

cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

estereótipos 19 dos mesmos, sendo que dois desses estereótipos se configuram em uma<br />

sinédoque, ou seja, a prática de nom<strong>ea</strong>r ou conferir uma identidade ao todo através do<br />

conhecimento de uma parte deste todo.<br />

O primeiro se refere ao nome genérico que foi conferido a todas as civilizações<br />

americanas por Cristóvão Colombo que achava que tinha chegado às Índias, mas na verdade<br />

chegou ao Caribe e nomeou a população que lá encontrou de índios (habitantes das Índias):<br />

“(…) a primeira roupa de que a América se travestiu, aos olhos do europeu, foi dada por Colombo<br />

através da palavra Índias. Colombo pensou ter chegado às Índias, e, portanto, tudo o que viu<br />

correspondia a um indicio capaz de comprovar sua hipótese. (…) O seu imaginário era regido por<br />

inúmeras informações, trazidas por viajantes [bagagem cultural] (como Marco Pólo, por exemplo) que<br />

gostavam de contar suas façanhas, sem que os interlocutores estivessem interessados em pedir provas.<br />

O prazer de produzir uma narração, de acordo com as suas expectativas, construídas bem antes da<br />

viagem, era superior a sua capacidade de descrever um continente desconhecido. Neste sentido,<br />

Colombo vai estruturar em seu diário não apenas o seu sonho, mas principalmente, um sonho italiano,<br />

um sonho europeu intercalado de informações retiradas de cartas elaboradas por navegadores<br />

experientes e observações astronômicas recolhidas em viagens. A r<strong>ea</strong>lidade e a fantasia se<br />

entrelaçam.” 20 .<br />

Sendo que esta designação permaneceu inerente aos nativos americanos, mesmo após<br />

os europeus se darem conta de que aqui eram novas terras. Contudo esta designação serviu<br />

aos interesses da colonização do Novo Mundo, pois:<br />

“(…) os europeus utilizavam este termo para designaram todas as civilizações americanas desde o norte<br />

ao sul do continente, mesmo que tais sociedades diferissem umas das outras em inúmeros aspectos, ou<br />

seja, civilizações tão distintas quanto Incas e Tupinambás – que falavam línguas diferentes, que tinham<br />

os costumes mais diversos, sendo os primeiros construtores de estradas e cidades, vivendo num império<br />

administrado por um corpo de burocratas e organizado em camadas sociais hierarquizadas, enquanto os<br />

segundos viviam em aldeias de casas de palha, numa sociedade sem camadas sociais em que a maior<br />

unidade política era provavelmente a aldeia – eram incluídas na mesma categoria: índios. Ou seja, não<br />

há nada em comum entre as inúmeras civilizações americanas, a não ser o fato de não serem européias,<br />

que justificasse que todas elas fossem denominadas por um único termo. Contudo para os europeus isso<br />

foi muito fácil, pois para eles, índios eram todos aqueles que habitavam o Novo Mundo” 21 .<br />

Sob a perspectiva européia, na América portuguesa, à complexidade cultural do<br />

gentio, num primeiro momento, a natureza do contato é pautada, por conclusões tais como,<br />

“(...) a língua de que usam toda pela costa, é uma: ainda que certos vocábulos difere nalgumas<br />

partes; mas não de maneira que se deixem uns aos outros de entender: e isto até a altura de<br />

vinte e sete graus, que daí por diante é outra gentilidade, (…) que falam já outra língua<br />

19 Egon Schaden define estereótipos como: “produto da mentalidade de uma época, de uma situação histórica<br />

peculiar, dos representantes de uma categoria social ou de um grupo cultural, uma vez incorporado a um sistema<br />

de idéias, convertem-se em fatores que condicionam e, até certo ponto, determinam as atitudes e o<br />

comportamento dos membros das respectivas etnias”. SCHADEN, Egon. O Índio brasileiro: Imagem e r<strong>ea</strong>lidade.<br />

Op. cit., p. 321.<br />

20 SILVA, Janice Theodoro da. Colombo: entre a Experiência e a Imaginação. Revista de História Brasileira.<br />

São Paulo: ANPUH/CNPq, v. 11, n. 21, p. 27-44, set.90/fev.91, p. 33-34.<br />

21 MELATTI, Julio César. Op. cit., p. 25-27.<br />

30

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!