cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
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Introdução<br />
Este trabalho é apresentado pelo aluno do curso de graduação de História, da<br />
Universidade Federal do Paraná, Marcus Vinicius Strapasson, na disciplina de Estágio<br />
Supervisionado em Pesquisa Histórica (HH067), sob a orientação do professor Dr. Carlos<br />
Alberto Medeiros Lima. O objetivo deste trabalho consiste na averiguação da existência ou<br />
não de diferença(s) entre os relatos dos <strong>cronistas</strong> do século XVI, tendo como eixo de análise a<br />
descrição da prática antropofágica e ritos circundantes dos indígenas da América portuguesa.<br />
Podemos dividir esses <strong>cronistas</strong>, de uma maneira geral, em dois grupos: <strong>leigos</strong> e <strong>religiosos</strong>.<br />
Essa simples diferenciação entre os <strong>cronistas</strong> demonstra que deve haver alguma diferença<br />
entre seus relatos. Para tal fim, serão utilizados os relatos de quatro <strong>cronistas</strong>, dois <strong>leigos</strong> e<br />
dois <strong>religiosos</strong>. Os relatos dos <strong>cronistas</strong> <strong>religiosos</strong> são os dos padres jesuítas (portugueses)<br />
José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, e o dos <strong>cronistas</strong> <strong>leigos</strong> são os relatos dos viajantes<br />
Hans Staden (alemão) e Anthony Knivet (inglês).<br />
Antes de proceder à análise das fontes escolhidas é necessário vislumbrar o contexto –<br />
mesmo não o levando em conta na hora da análise, pois isso implicaria em outros inúmeros<br />
questionamentos que fugiriam ao objetivo de averiguar a existência de diferença entre esses<br />
relatos – em que esses <strong>cronistas</strong> escreveram suas obras, pois suas descrições sobre a<br />
antropofagia indígena 1 se inserem dentro desse contexto. Dessa forma dividi este trabalho em<br />
três partes. Na primeira parte, intitulada: Impacto do Contato: Choque Cultural. Demonstra-se<br />
que a r<strong>ea</strong>ção inicial dos europeus frente ao impacto da descoberta de novas terras – Novo<br />
Mundo (América) – e que o contato com povos – choque cultural – que eles desconheciam<br />
(nem imaginavam que existiam) se pautou inicialmente no maravilhoso, o qual fez com que<br />
um mundo, junto de seus habitantes, totalmente desconhecido pelos europeus se tornasse um<br />
mundo de semelhanças. Contudo, passado o período da descoberta e estando a conquista já<br />
consolidada, inicia-se o processo de colonização e com o avançar desse, as descrições<br />
bas<strong>ea</strong>das no maravilhoso se tornam inadequadas para representar a nova r<strong>ea</strong>lidade que se<br />
impõem frente aos olhos dos europeus. Com relação ao contato com os habitantes desse Novo<br />
Mundo, temos que os europeus demonstraram uma enorme incompreensão quanto a suas<br />
práticas, a seus costumes (ritos) e ao que eles queriam dizer aos europeus (questão<br />
lingüística), além de não reconhecerem a enorme diferença existente entre as inúmeras etnias<br />
1 A questão de me referir aqui e ao longo do trabalho, a antropofagia utilizando o termo antropofagia indígena<br />
não é redundância, mas a afirmação de que essa prática concerne aos habitantes do continente americano, pois a<br />
antropofagia não se constitui numa prática exclusiva dos povos da América. Temos relatos dessa prática, fora da<br />
América, principalmente na África e na Oc<strong>ea</strong>nia.<br />
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