20.04.2013 Views

cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Cronistas Leigos e Cronistas Religiosos: Visões sobre a antropofagia indígena<br />

no decorrer do processo de colonização da América portuguesa no século XVI<br />

Os viajantes (<strong>cronistas</strong>) europeus do século XVI que registram por escrito suas<br />

aventuras (ou peripécias) no Novo Mundo, o fizeram de várias formas, mas quer sob a forma<br />

de cartas, diários, tratados, crônicas, esses relatos trazem além da aventura que esses viajantes<br />

empreenderam no Novo Mundo, as práticas e os costumes das mais diversas etnias indígenas,<br />

e dentre essas práticas se encontra a antropofágica. Esses autores escreveram suas obras, não<br />

apenas com a finalidade de relatar a sua aventura no Novo Mundo, mas também para informar<br />

aos outros europeus, que não podiam vir para estas paragens, o deslumbrante e exuberante<br />

Mundo Novo que existia nos Trópicos, além dos exóticos, horrendos e repugnantes costumes<br />

praticados pelos nativos.<br />

A prática antropofagia ou o ato de comer carne humana – designado de canibalismo –<br />

foi junto da poligamia e da nudez – este é o aspecto que primeiro chamou a atenção dos<br />

europeus, pois a falta de roupas na cultura indígena contrastava com a sua cultura, onde o<br />

“uso de roupas pesadas que recobriam todo o corpo era a regra social e moral (…)” 1 –, um dos<br />

costumes praticados por algumas civilizações americanas que chocaram e horrorizaram os<br />

europeus. Contudo, sabemos que o canibalismo por si só é impossível, pois ninguém comeu<br />

carne humana simplesmente para saciar seu apetite ou se deliciar com esta iguaria, “mas só os<br />

ingênuos deduzem que por isso ele não é r<strong>ea</strong>l” 2 . Ao contrário, a antropofagia era um elemento<br />

integrante e central da cultura de alguns povos ameríndios 3 . Deste fato parece não haver<br />

dúvida, pois são muitos os registros deixados por contemporâneos – devemos chamá-los de<br />

<strong>cronistas</strong> e podemos dividi-los em duas categorias ou grupos. Num grupo teríamos os<br />

<strong>cronistas</strong> <strong>religiosos</strong> que pertenciam às ordens religiosas que vieram ao Novo Mundo, tais<br />

como os jesuítas, franciscanos e capuchinhos. O outro grupo é constituído de <strong>cronistas</strong> <strong>leigos</strong><br />

de diferentes nacionalidades que se aventuravam no Novo Mundo, desde os primeiros<br />

contatos entre os europeus com os nativos americanos. Dentre esses registros temos os dos<br />

<strong>cronistas</strong> <strong>leigos</strong>, J<strong>ea</strong>n de Lery (francês), Hans Staden (alemão), Anthony Knivet (inglês),<br />

Gaspar Barléu (holandês) entre outros, por parte dos <strong>cronistas</strong> <strong>religiosos</strong> temos os relatos do<br />

Pe. Manuel da Nóbrega (jesuíta), do Pe. José de Anchieta (jesuíta), do Frei André Thevet<br />

1 MESGRAVIS, Laima. O Brasil nos séculos XVI e XVII. 3ª. ed. São Paulo: Contexto, 1997, p. 29.<br />

2 CASTRO, Eduardo B. Viveiros de. Os Deuses canibais – A morte e o destino da alma entre os Araweté.<br />

Revista de Antropologia, São Paulo: Edusp, v. 27/28, p. 55-89, 1984/1985, p. 83.<br />

3 Dentre as diversas tribos (etnias) ameríndias que praticavam à antropofagia, as que aparecem com mais<br />

freqüência nos relatos dos <strong>cronistas</strong> – tanto <strong>leigos</strong> quanto <strong>religiosos</strong> – são as: tupi, guarani e caribe. Sendo que à<br />

prática antropofágica tupi e guarani apresentam grande similaridade, mas não são iguais.<br />

25

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!