cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
no Novo Mundo em beneficio do rei de Portugal” 4 , sendo que o próprio Staden, deixou claro<br />
que findo os dois anos de contrato, os portugueses o deviam deixar ir/voltar, sem criar<br />
embaraços, a Portugal, onde receberia sua recompensa pelos serviços prestados 5 .<br />
No ano seguinte, 1554, ao ir buscar caça na floresta – “na América o descuido e o<br />
perigo de morte convergem” 6 –, foi assaltado, aprisionado e despido, protegendo um forte<br />
português, por índios tupinambás, que nesse período eram aliados dos franceses e inimigos<br />
dos portugueses que eram aliados dos tupiniquins e estes inimigos dos tupinambás. Dessa<br />
maneira, teve início à saga do artilheiro alemão, que foi conduzido pelos indígenas à aldeia de<br />
Ubatuba – “que segundo pesquisas de Wilhelm Kloster, não deve ser confundida com o atual<br />
lugar denominado Ubatuba, em São Paulo, mas localizada em terras fluminenses de Angra<br />
dos Reis” 7 –, onde, conviveu por nove meses com seus captores, “frequentemente am<strong>ea</strong>çado<br />
de morte e de ser devorado num ritual antropofágico da tribo, conseguiu adiar sua morte ao<br />
longo dos meses, até ser resgatado por um navio francês” 8 , nos quais participou das atividades<br />
diárias da tribo, das expedições guerreiras e venatórias, bem como das cerimônias festivas.<br />
Staden foi considerado pelos índios, como sendo português, mas ele primeiro<br />
declarou-se “alemão, depois amigo e parente dos franceses, e finalmente francês” 9 . A cor de<br />
sua barba ruiva lhe serviu de álibi, pois esta confundiu os índios, pois para eles, a barba preta<br />
denunciava os portugueses, e a ruiva os franceses. Em dúvida sobre a origem de Staden, os<br />
tupinambás, esperaram a vinda de um francês, por eles chamado de Caruatá-uára, a sua<br />
aldeia, para esclarecer tal dúvida, sendo que este dirigiu a palavra a Staden em francês, e ele<br />
ficou em silêncio, pois não sabia/estendia francês, apenas alemão e tupi, sendo nesse silêncio<br />
metamorfos<strong>ea</strong>do em português, no qual o francês completou com frase (em língua nativa):<br />
“Matai-o e comei-o, esse biltre; ele é bem português, vosso inimigo e meu” 10 , ou seja, à priori,<br />
um francês condenou Staden à morte (a ser devorado). Dessa forma Staden, se retirou para a<br />
oca onde estava alojado, mas antes atirou aos pés do francês, um pedaço de pano de linho, que<br />
ele tinha colocado no ombro, pois o sol tinha queimado, mas agora, segundo Staden: “Se eu<br />
devia morrer mesmo, por que havia de cuidar ainda da minha carne para os outros!” 11 . Dentro<br />
4<br />
GIUCCI, Guillermo. Viajantes do maravilhoso: o Novo Mundo. Tradução de Josely Vianna Batista. São<br />
Paulo: Cia. das Letras, 1992, p. 220.<br />
5<br />
STADEN, Hans. Op. cit., p. 76-77.<br />
6<br />
GIUCCI, Guillermo. Op. cit., p. 220.<br />
7<br />
ADRÄ, Helmut. Op. cit., p. 304; STADEN, Hans. Op. cit., p. 87-88.<br />
8<br />
OLIVEIRA, Antonio Carlos & VILLA, Marco Antonio (Orgs.). Cronistas do Descobrimento. São Paulo:<br />
Ática, 1999, p. 83.<br />
9<br />
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial 1500-1808. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2000, p. 278.<br />
10 STADEN, Hans. Op. cit., p. 95.<br />
11 Ibidem.<br />
86