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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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os queriam aprisionar para servirem de mão-de-obra escrava. Contudo, não me deterei na<br />

análise de implicações políticas que esses relatos fornecem, mas sim nas diferenças que<br />

existem entre eles, tomando por eixo de análise a descrição da antropofagia indígena e suas<br />

práticas circundantes, como a guerra, concepção de morte entre outras.<br />

Como já foi referido, podemos dividir esses <strong>cronistas</strong>, de uma maneira geral, em dois<br />

grupos: <strong>leigos</strong> e <strong>religiosos</strong>. Essa simples diferenciação entre os <strong>cronistas</strong> demonstra que deve<br />

haver alguma diferença entre seus relatos. Para tal fim, serão utilizados os relatos de quatro<br />

<strong>cronistas</strong>, dois <strong>leigos</strong> e dois <strong>religiosos</strong>. Os relatos dos <strong>cronistas</strong> <strong>religiosos</strong> são os dos padres<br />

jesuítas (portugueses) José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, e o dos <strong>cronistas</strong> <strong>leigos</strong> são os<br />

relatos dos viajantes Hans Staden 165 (alemão) e Antony Knivet (inglês).<br />

Quanto à feição destas obras temos que as dos <strong>cronistas</strong> <strong>leigos</strong> se constituem em livros<br />

que são escritos, não imediatamente após o contato de seus autores com o fato que nos<br />

interessa, que é o da antropofagia e práticas circundantes, ou seja, ainda em domínios da<br />

América Portuguesa, mas após o retorno desses viajantes para a Europa. Contudo é preciso<br />

ressaltar que mesmo tendo sido escritas na Europa e não aqui, essas obras foram escritas sob o<br />

impacto do contato com o outro (choque cultural). Sendo que o outro se materializa na figura<br />

do indígena e suas diversas sociedades. No que se refere à estrutura textual desses relatos, ou<br />

seja, à maneira/ordem com que os fatos são narrados, podemos notar que esses relatos<br />

possuem como característica comum a sua estrutura textual, pois ambos começam narrando<br />

como empreenderam a viagem até a América Portuguesa (motivos ou circunstâncias da<br />

viagem), passando a descrição das peculiaridades da costa e sobre a exuberante natureza que<br />

aqui encontram (flora e fauna):<br />

“A extensão da costa com a grande diversidade das paisagens é a primeira imagem que se destaca, com<br />

a menção das léguas infindáveis de areias brancas, de florestas com árvores gigantescas, eternamente<br />

verdes, rios caudalosos, e piscosos e ancoradouros favoráveis” 166 .<br />

Depois, passam a falar sobre os índios, como vivem, quais são os seus costumes, e etc.<br />

Nesta parte, a descrição do ritual antropofágico, bem como de outros costumes, como a<br />

guerra, a preparação de bebidas, e de todo o aparato que cerca a cerimônia, ganham destaque.<br />

A sua narração é em alguns casos feita nos mínimos detalhes, demonstrando, dessa maneira,<br />

que r<strong>ea</strong>lmente esses <strong>cronistas</strong> presenciaram esta prática indígena por variados motivos, por<br />

165 Temos no Brasil, além de sua obra completa sob o título de Duas viagens ao Brasil, uma obra intitulada Meu<br />

cativeiro entre os selvagens do Brasil, que é uma versão simplificada, já que contêm apenas a primeira parte da<br />

obra completa com uma linguagem mais simplificada, pois está obra foi organizada por Monteiro Lobato que<br />

tinha por alvo um público infantil.<br />

166 MESGRAVIS, Laima. Op. cit., p. 12.<br />

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