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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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Com relação aos mitos indígenas, temos que Nóbrega não os descreve em seu sentido<br />

indígena, pois este não era o seu objetivo, mas sim alterar grande parte desses mitos ou os<br />

utilizar em proveito da conversão dos indígenas ao cristianismo. Temos apenas dois mitos<br />

indígenas narrados por Nóbrega nos escritos analisados, contudo esses mitos por ele narrados<br />

tinham a função de aviltar o trabalho de conversão.<br />

Encontramos esses dois mitos, na “Carta dos Meninos do Colégio de Jesus da Baía ao<br />

Padre Pedro Domenech, escrita da Baía, 5 de agosto de 1552”. Esta carta se refere a uma<br />

romaria onde os padres junto dos meninos adentraram o sertão, em direção a uma aldeia que<br />

se referem como a “Aldeia das pegadas”, pois perto dela se encontrava uma pedra que tinha<br />

marcas de pegadas nela. Essas pegadas incrustadas na rocha eram, em lenda, “atribuídas a um<br />

vago herói chamado Zumé, que os portugueses, [segundo Serafim Leite] antes dos jesuítas, se<br />

referiam ser São Tomé” 45 . Ao chegar ao destino, o padre relata:<br />

140<br />

“Ao chegar, era meia maré baixa, e vimos às pegadas, que as cobre a maré cheia, que estão em pedra<br />

muito dura, e as pegadas marcadas como de homem que fugindo, resvalava, e a pedra deu lugar a seus<br />

pés, como se fosse barro, assim se abaixou e humilhou” 46 .<br />

Sobre o outro mito indígena, temos que durante a romaria, os meninos carregavam<br />

uma cruz de madeira, e entoavam cantos de louvor a Deus:<br />

“(…) Deus que fez os céus e a terra e todas as coisas para nós, para que o conhecêssemos e servíssemos,<br />

e nós, a quem Ele fez da terra e deu tudo, não o queremos conhecer, nem crer, obedecendo a seus<br />

feiticeiros e maus costumes, e que dali em diante não teriam escusa, pois Deus lhes enviaria a<br />

verdadeira santidade, que é a cruz, e aquelas palavras e cantares, e que Deus tinha vida para os que<br />

crêem (…)” 47 .<br />

Sendo que os índios mais velhos e os padres ficaram espantados por “saberem tanto os<br />

meninos, porque lhes falava, do inferno e do diabo, de quem eles [índios] têm muito medo” 48 .<br />

Provavelmente essa é uma apropriação do mito de Anhã ou Anhangá, uma figura da mitologia<br />

indígena tupi que os mesmos têm muito medo, a qual os padres associaram o diabo.<br />

4 – Com relação aos costumes e à cultura material do gentio, o que o autor descreve?<br />

Em relação aos costumes e a cultura material do gentio, temos que Nóbrega não relata<br />

muitos, e os que relata, não o faz pormenorizadamente, não traz detalhes, pois está não era sua<br />

função, muito menos sua intenção, pois seu objetivo era converter os índios a fé cristã, sendo<br />

45 Sem Autor. Carta dos Meninos do Colégio de Jesus da Baía ao P; Pedro Domenech… Op. cit., p. 145.<br />

46 Ibidem.<br />

47 Ibid., p. 143.<br />

48 Ibid., p. 143-144.

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