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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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Com relação aos feiticeiros (pajés), Nóbrega relata alguns casos e diz que os padres<br />

sempre os perseguem e os desacreditam frente aos índios. Um primeiro caso diz respeito há<br />

um índio que foi ao mato onde tinha “uma velha guardando a fruta é a matou, dizendo que<br />

esta velha e o seu espírito o fizera estar muito doente” 56 . Em outro caso, relatado na carta “Ao<br />

P. Miguel de Torres e Padres de Portugal. Baía 5 de julho de 1559”, Nóbrega diz que um<br />

índio escravo trouxe uma santidade 57 a um engenho:<br />

142<br />

“(…) e a santidade que pregava era que aquele santo que fizera abalar o Engenho e ao senhor com ele, e<br />

que converteria a todos os que queria em pássaros, e que matava a lagarta das roças que então havia, e<br />

que nós não éramos para matar, e que havia de destruir a nossa igreja, e os nossos casamentos que não<br />

prestavam, que o seu santo dizia que tivessem muitas mulheres, e outras cousas desta qualidade” 58 .<br />

Outro caso diz respeito a que um menino viu um feiticeiro retirar um pedaço de palha<br />

de uma pessoa doente e que o mesmo se vangloriou que esta era a causa de sua doença, do<br />

que o menino retrucou que mentia e foi correndo chamar um padre que estava nas redondezas<br />

– Antonio Rodrigues. 59 Em outra aldeia havia muitas feiticeiras que tinham armado laços em<br />

uma cabana com o intuito de prender a morte se ali viesse tirar a vida de um menino doente,<br />

sendo que os pais desse menino recusavam o batismo 60 .<br />

Sobre os costumes impostos pelos padres aos indígenas, diz que os meninos tinham<br />

adornado a “cruz toda pintada de pluma da terra e muito formosa 61 . Que os jovens e as<br />

crianças cantavam nas missas, e ainda “os meninos tem cuidado de ensinarem há doutrina a<br />

seus pais e mais velhos e velhas, os quais não podem tantas vezes ir há Igreja, e é grande<br />

consolação ouvir por todas as casas louvar-se Nosso Senhor e dar-se gloria ao nome de Jesus”<br />

62 . Os indígenas também participavam de procissões, em grande número, sendo que em<br />

algumas dessas procissões os índios se auto imolavam “os índios que da paixão de Nosso<br />

Senhor Jesus Cristo, já tinham alguma notícia, e movidos de grande compunção se davam<br />

bofetadas muito asperamente, derramando muitas lágrimas, segundo soube de todos os<br />

cristãos que estavam na Igreja” 63 .<br />

Vê-se que os padres de certa forma controlam os costumes indígenas, especialmente<br />

aqueles que queriam eliminar, porque segundo a concepção dos padres atentam contra a<br />

56 NÓBREGA, Pe. Manuel da. Ao P. Miguel de Torres e Padres de Portugal… Op. cit., p. 297.<br />

57 Sobre este assunto ver o livro de Ronaldo Vainfas: VAINFAS, Ronaldo. A heresia dos índios. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1996.<br />

58 NÓBREGA, Pe. Manuel da. Ao P. Miguel de Torres e Padres de Portugal… Op. cit., p. 297.<br />

59 Ibid., p. 310-311.<br />

60 Ibid., p. 311.<br />

61 Sem Autor. Carta dos Meninos do Colégio de Jesus da Baía ao P; Pedro Domenech… Op. cit., p. 149.<br />

62 NÓBREGA, Pe. Manuel da. Ao P. Miguel de Torres e Padres de Portugal… Op. cit., p. 296.<br />

63 Ibid., p. 299.

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