cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
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e a submissão aos seus emissários, que nesse caso eram os próprios espanhóis. Uma promessa<br />
de que se eles se submeterem pacificamente, os soldados deixarão seus filhos e mulheres<br />
livres, caso contrário, se não fossem mortos durante a investida, eles seriam escravizados.<br />
Contudo, essa não era uma opção para os nativos, pois se não reconhecessem os termos dessa<br />
capitulação, os espanhóis se viam no direito legítimo de guerr<strong>ea</strong>r contra eles “onde e como<br />
fosse possível”, e ainda por cima, imputando a culpa das mortes e da devastação causadas por<br />
tal contenda nos próprios nativos. 83<br />
Para garantir seus domínios e ao mesmo tempo garantir a ordem de suas colônias, os<br />
países europeus mandaram ao Novo Mundo, “agentes do colonialismo”, que diferiam de<br />
função (cargo) em cada país, mas mantinham-se atrelados aos quesitos que embasavam a<br />
definição de posse (domínio) de cada país:<br />
“Os colonialistas ingleses mandaram um agrimensor com seus instrumentos para registrar<br />
cuidadosamente às fronteiras da terra. O primeiro representante do colonialismo português foi o<br />
astrônomo que tomou as medidas do céu; seu sucessor, o agente do tesouro coletando impostos, figura<br />
também central no colonialismo holandês. O emissário da autoridade colonial francesa teve a função de<br />
um diretor t<strong>ea</strong>tral, coreografando e encenando a aliança cerimonial dos franceses com os povos nativos.<br />
O primeiro enviado do colonialismo espanhol proclamou a superioridade do cristianismo; seu sucessor<br />
foi o encarregado do recens<strong>ea</strong>mento, listando nomes dos que deviam tributos ao governo espanhol” 84 .<br />
Percebe-se que cada país tinha um método diferente para garantir a posse de seus<br />
domínios ultramarinos (coloniais), sendo que esses métodos (ou cerimoniais) tinham a função<br />
de registrar perante os outros países europeus, e não dos nativos, o seu domínio (a posse)<br />
sobre aquela localidade (terras e gente). Contudo, cada nação – embora partilhassem uma<br />
plataforma tecnológica e ecológica comum 85 –, ao mesmo tempo em que achava seus métodos<br />
corretos e legais perante a lei, não reconhecia os métodos e o embasamento legal dos outros<br />
países, ou seja, não havia um entendimento comum entre os países europeus sobre como<br />
proceder, tanto no âmbito político (legalidade da posse) como no militar no Novo Mundo.<br />
Os desentendimentos sobre o modo de proceder no Novo Mundo, já que os países<br />
europeus não reconheciam mutuamente as formas de posse de cada país, geraram hostilidades<br />
entre os países e acusações mútuas sobre a prática colonial empregada, principalmente no que<br />
se refere ao tratamento dispensado ao elemento indígena.<br />
Uma das principais razões acerca desse desentendimento sobre os procedimentos de<br />
posse no Novo Mundo foi provocada pela questão semântica, ou em outros termos, o<br />
significado das palavras em uma determinada língua – no século XVI as línguas estavam se<br />
83 SEDD, Patricia. Op. cit., p. 103-104.<br />
84 Ibid., p. 260.<br />
85 Ibid., p. 11.<br />
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