cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
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Sobre o ritual antropofágico, Knivet o descreve em duas ocasiões, a primeira quando,<br />
ele vê seus doze companheiros portugueses serem devorados pelos tamoios, e a segunda<br />
quando ele participa de uma expedição bélica contra os petiguaras. As outras vezes em que se<br />
refere à antropofagia, ele simplesmente, descreve o número de prisioneiros feitos e que os<br />
índios os devoraram, como no caso em que descreve, quando junto com os tamoios, tomou de<br />
assalto uma aldeia carijó, descrevendo que foram feitos “trezentos prisioneiros entre homens e<br />
mulheres, que os tamoios mataram e comeram a seguir” 29 – Knivet não descreve de que modo<br />
esses índios foram mortos e sua carne consumida.<br />
Sobre o primeiro caso, Knivet refere-se que, após ele e mais doze portugueses terem<br />
seguido por outro caminho na volta de uma malograda expedição bélica, eles se deparam<br />
diante de uma aldeia indígena, e deliberam entre eles o que era melhor fazer. Decidiram ser<br />
melhor, se submeter aos índios, mas antes disso, eles combinaram o que iriam dizer aos<br />
índios. Os portugueses iriam dizer que eram portugueses, mas Knivet não concordando nesse<br />
ponto, diria que era francês 30 – o que lhe salvou a vida. Dessa forma, se deslocaram em<br />
direção à aldeia, e ao terem a presença percebida pelos índios, eles foram até eles “aos gritos e<br />
brados, com seus arcos e frechas e, aproximando-se nos amarraram as mãos passando-nos<br />
cordas em torno da cintura” 31 (essa corda que os índios amarravam em torno da cintura era<br />
chamada de mussurana – corda de algodão –, mas esta era apenas amarrada a prisioneiros de<br />
guerras que eram destinados ao rito antropofágico, e pelo relato, eles, Knivet e os portugueses<br />
não são prisioneiros). Com a corda amarrada pela cintura eles foram levados para dentro da<br />
aldeia onde foram recebidos por três velhos (anciões) que lhes indagaram quem eram eles, no<br />
que responderam o que tinham combinado: que eram portugueses e Knivet que era francês.<br />
Findo isso, ficaram trancados em numa cabana por umas três horas, quando, os índios:<br />
29 Ibid., p. 90.<br />
30 Ibid., p. 83.<br />
31 Ibid., p. 84.<br />
“(…) apanharam um dos portugueses e, amarrando-lhe nova corda a cintura, conduziram-no a um pátio<br />
onde três selvagens mantinham esta corda de um lado e três do outro, ficando o português no meio.<br />
Veio um ancião que lhe ordenou: ‘Olha para todas as coisas que amas’, declarando-lhe que devia dizer<br />
adeus a elas, pois nunca mais as veria. A esta altura, aproximou-se um moço, robusto, com as mãos e<br />
faces tintas de vermelho, dizendo a vítima: ‘Tu me vês? Sou aquele que matou muitos da tua nação e te<br />
matará’. Depois de ter assim discursado, chegou-se por detrás do português e pregando-lhe uma<br />
bordoada na nuca, fê-lo rolar ao chão. Logo em seguida assentou-lhe outro golpe mortal. Então, com um<br />
dente de capivara, rasgaram o selvagem toda a pele do morto e tomando-o pela cabeça e pelos pés,<br />
mantiveram a chama; depois, esfregando-o com as mãos, lhe despregavam toda essa pele, deixando-o<br />
em carne viva. E prosseguiram cortando-lhe fora a cabeça, que deram ao carrasco; as entranhas,<br />
entregaram-nas às mulheres. Após isso, cortaram-no, junta por junta; primeiro as mãos, depois os<br />
cotovelos, e assim todo o corpo, enviando a cada casa um pedaço, caindo então em danças. As mulheres<br />
fizeram grande provisão de vinho [cauim]; no dia seguinte ferveram cada junta numa grande vasilha de<br />
água, a fim de que suas mulheres todas e filhos pudessem participar do caldo. Pelo espaço de três dias<br />
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