cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
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isso a criança é cozida na água com tangy 81 , pois depois, pode-se oferecer, a cada um, uma<br />
ração de sopa.<br />
Durante a preparação do byta, ocupa-se do cadáver, que é cortado com uma faca de<br />
bambu, preferencialmente pelo padrinho do defunto, se este se encontrar vivo.<br />
“A cabeça e os membros são separados do tronco, braços e pernas são desarticulados, órgãos e vísceras<br />
são extraídos de seus alojamento. A cabeça é cuidadosamente raspada, barba e cabelos se se tratar de<br />
um homem; em principio é a esposa que se encarrega disto, assim como uma mãe raspa a cabeça de um<br />
filho. Diferentemente das partes musculosas e dos órgãos – a carne propriamente dita -, a cabeça e os<br />
intestinos são cozidos em panelas. Nada é eliminado do corpo do homem; do corpo da mulher, tira-se<br />
somente, seu pere, seu sexo, que não é consumido; enterrando-no. Todo é resto é disposto sobre o byta.<br />
Embaixo há muitas brasas, as chamas não atingem o moquém, a carne cozinha lentamente. A gordura, a<br />
deliciosa kyra de Aché, espoca e escorre em grossas gotas odoríferas ao longo das ripas. Para não se<br />
perder nada dessa gostosura, pegam-nas com os pinceis sugados com grande ruído. Quando não se vê<br />
mais nenhum traço de sangue, reparte-se a carne entre os assistentes. Quem participa do repasto, quem<br />
come o morto? Todos os presentes, jovens e velhos, mulheres e homens, todo mundo salvo os parentes<br />
próximos do defunto. Um pai e uma mãe não comem seus filhos, os filhos não comem seus pais e não<br />
se comem entre si: esta é a regra, mas como toda regra, isso não se respeita sempre, toleram-se algumas<br />
infrações” 82 .<br />
Pode-se, comer qualquer coisa, menos a cabeça e o pênis, pois a primeira é reservada<br />
aos anciãos e o segundo é sempre destinado às mulheres grávidas, pois assim elas têm a<br />
certeza de dar à luz a um menino. Algumas proibições são respeitadas pelos índios guayaki,<br />
“não se verá jamais um irmão comer a irmã, um pai comer a filha, uma mãe comer seu filho e<br />
reciprocamente. Os membros da família de sexo oposto não se comem entre si” Por quê?<br />
Porque comer alguém na concepção dos índios guayaki, significa fazer amor com ele, ou seja,<br />
“que um pai coma sua filha e ele se encontra então, metaforicamente, em estado de incesto” 83 .<br />
Em suma, os guayaki não comem aqueles com quem é proibido fazer meno (amor/sexo):<br />
proibição do incesto e tabu alimentar se recobrem exatamente no espaço unitário da exogamia<br />
e da exocozinha. Quando o banquete está terminado, os jovens que construíram o moquém<br />
são submetidos ao ritual de purificação:<br />
“Lavam-nos com a água onde se mergulharam as aparas da liana kymata, para evitar-lhes o baivwã.<br />
Depois, como os irõiangi, quebra-se o crânio e queima-se. Isto feito vai-se embora. O moquém é<br />
deixado ali mesmo, ao menos quando serviu para assar um adulto. Duas razões para isso, explicam os<br />
índios: se os irondy vêm a passar pó lá, compreenderão que um Ache [guayaki] morreu, e eles o<br />
chorarão. Mas se os visitantes Estrangeiros, portanto inimigos, saberão que há na região canibais,<br />
ficarão com medo e fugirão. Se o byta foi utilizado para uma criança, destroem-no” 84 .<br />
Um dos significados desse ritual é fazer a alma da pessoa morta, encontrar e seguir seu<br />
rumo em direção ao país dos mortos: “Leva-a então a fumaça que, das cinzas do crânio<br />
81 Ibid., p. 243.<br />
82 Ibid., p. 233.<br />
83 Ibid., p. 234.<br />
84 Ibid., p. 235.<br />
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