20.04.2013 Views

cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

da oca, deitado na rede, Staden começou a entoar uma prece, que os selvagens interpretaram<br />

de outra maneira, pois para os indígenas isso significava que Staden: “É um português<br />

legítimo. Agora grita, apavora-se diante da morte” 12 .<br />

Contudo, Staden utilizou inúmeras artimanhas, ou melhor, soube manipular em<br />

proveito próprio as crenças indígenas, mas também, demonstrou aos indígenas que o Deus<br />

cristão era poderoso. Sendo esta “habilidade do prisioneiro alemão para manipular o sagrado<br />

indígena com objetivos am<strong>ea</strong>çadores” 13 , a razão pela qual não morreu no sacrifício (ritual<br />

antropofágico), pois o postergou o máximo possível até sua fuga – volta para a Europa.<br />

“A astúcia de Staden consistira em controlar, ou melhor, simular controle sobre os fenômenos da<br />

natureza. (…) como a sobrevivência dos índios, bas<strong>ea</strong>da na pesca e na plantação, mostrasse subordinada<br />

a influencia do sol, da luta, dos ventos e das tempestades, a esperteza do herói estaria em simular<br />

controle sobre a natureza, pelo poder de sua mente ou pela força de seu Deus” 14 .<br />

Segundo Giucci, a identificação das crenças indígenas bas<strong>ea</strong>das em superstições,<br />

possibilitou aos europeus, na etapa da conquista, a obtenção de escravos, gêneros comerciais<br />

ou alimentícios, sem necessidade de se recorrer à violência 15 , sendo que esse método não<br />

surtiu o mesmo efeito quando a colonização efetiva do continente americano se consolidou,<br />

pois a apropriação das terras pelos colonos europeus, ligada à demanda de mão-de-obra<br />

indígena escrava, juntando com a necessidade de disciplinar o nativo, mais as guerras e as<br />

epidemias, afetaram diretamente as instituições tribais indígenas, além disso, as alianças<br />

indígenas antes indispensáveis aos europeus, perderam o sentido 16 .<br />

“O conhecimento abre caminho para o poder quando uma das partes sabe o que a outra desconhece. E<br />

se torna poder quando a possibilidade de predizer eventos incomuns é formulada pela primeira como<br />

expressão do domínio sobre o considerado inescrutável pela segunda” 17 .<br />

Então, nesse período, o expedicionário quinhentista, mesmo estando em clara<br />

desvantagem, ou em situação desesperadora, em relação ao elemento indígena, “tentou<br />

manobrar as crenças indígenas com a esperança de poder r<strong>ea</strong>firmar sua autoridade ou<br />

assegurar sua sobrevivência” 18 . Sendo que em cada caso o conquistador adaptou essa<br />

estratégia as suas necessidades:<br />

12 Ibid., p. 96.<br />

13 GIUCCI, Guillermo. Op. cit., p. 226.<br />

14 BELLUZO, Ana Maria. A lógica das imagens e os habitantes do Novo Mundo. In: IN: GRUPIONI, Luis<br />

Donisete (Org.). Índios do Brasil. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, 1994, p. 47-58, p. 48.<br />

15 GIUCCI, Guillermo. Op. cit., p. 207.<br />

16 Ibid., p. 213.<br />

17 Ibid., p. 226.<br />

18 Ibid., p. 208.<br />

87

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!