cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
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palavra do Senhor é uma das três funções que o cronista atribui aos desterrados neste trópico perdido do<br />
Atlântico meridional” 74 .<br />
O estudo sistemático e a compilação das línguas nativas em gramáticas serão<br />
r<strong>ea</strong>lizados (sistematizado) pelos missionários das variadas ordens religiosas que vêm para a<br />
América para o trabalho de catequização. Alguns índios aprenderam à língua dos<br />
conquistadores, pelo convívio ou forçados, pois o próprio Colombo achava interessante ter<br />
alguém como interprete, por isso, em sua primeira viagem ele envia a Espanha alguns índios<br />
para que esses aprendessem o espanhol e nas próximas viagens servissem de interpretes.<br />
Dentre os indígenas que serviram a esse propósito, destacam-se: Malinche e Feliopillo que<br />
serviram de interpretes respectivamente a Hernán Cortez e Francisco Pizarro 75 .<br />
Ao mesmo tempo em que os nativos eram incompreendidos pelos europeus, eles eram<br />
subjugados pelos mesmos, através de cerimônias de posse que eram professadas o mais rápido<br />
possível e de preferência em frente a um grupo de nativos, pois estas cerimônias<br />
aparentemente eram dirigidas aos nativos, mas estes não compreendiam o que estava<br />
acontecendo, contudo os europeus geralmente assinalam a complacência e a aceitação por<br />
parte dos indígenas de seu domínio.<br />
“O domínio colonial sobre o novo mundo foi instaurado por meio de praticas basicamente cerimoniais –<br />
os colonizadores fincaram cruzes, estandartes, bandeiras e brasões; marcharam em procissões,<br />
apanharam um torrão do solo, mediram as estrelas, desenharam mapas, proferiram algumas palavras ou<br />
permaneceram em silêncio. Embora a força militar tenha efetivamente assegurado seu poder sobre o<br />
novo mundo, os europeus dos séculos XVI e XVII também acreditavam em seu direito de governar. E<br />
criaram para si próprios esses direitos empregando palavras e gestos significativos que algumas vezes<br />
precediam, outras vezes sucediam, e outras ainda acompanharam a conquista militar” 76 .<br />
Como referimos acima, esses rituais aparentemente se dirigiam aos nativos, mas o<br />
verdadeiro significado (sentido) dessas cerimônias de posse só tem sentido frente aos próprios<br />
europeus, ou seja, ela ratifica os domínios de um país europeu frente a outro país europeu e<br />
não frente aos nativos. A estes, o ritual de posse “converte-se em signo anunciador de guerras<br />
e morte, submissão e escravismo, despojo de riquezas e exploração de minas de metais<br />
preciosos” 77 além da fundação de cidades e de uma nascente ordem colonial.<br />
Cada país europeu tinha o seu cerimonial para ratificar seus domínios (sua posse)<br />
sobre as terras do Novo Mundo. Os ingleses ratificavam a posse das terras através do ato de<br />
74 GIUCCI, Guillermo. A Visão Inaugural do Brasil: a Terra de Vera Cruz. Revista Brasileira de História. São<br />
Paulo: ANPUH/CNPq, v.11, n° 21, p. 45-64, set.90/fev.91, p. 52.<br />
75 GIUCCI, Guillermo. Viajantes do maravilhoso… Op. cit., p. 119.<br />
76 SEED, Patrícia. Cerimônias de Posse na conquista européia do novo mundo (1492-1640). Tradução de<br />
Lenita R. Esteves. São Paulo: UNESP, 1999, p. 10.<br />
77 GIUCCI, Guilhermo. Op. cit., p. 18.<br />
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