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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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comércio das especiarias ou da própria venda dos escravos – e a tarefa civilizadora – a qual<br />

estava ligada diretamente ao direito da posse das terras – a expansão do cristianismo.<br />

Com isso, os índios passaram a ser diferenciados pelos europeus em “índios inocentes,<br />

cristão em potencial, e índios idolatras, praticantes do canibalismo; ou índios pacíficos (que se<br />

submetem ao poder deles) e índios belicosos, que merecem por isso ser punidos” 91 , contudo<br />

essa diferenciação entre os indígenas, em duas categorias, conduzia a lógica de que aos<br />

indígenas não cristãos só restaria à escravidão, pois não existia outra (terceira) possibilidade.<br />

Dessa forma, as atrocidades perpetradas pelos europeus, especialmente, os espanhóis,<br />

são justificáveis, pois de certa forma, se apresentam como “fatores subordinados do progresso<br />

espiritual da humanidade”, ou seja, as matanças e a violência utilizadas sobre o elemento<br />

indígena, mesmo, sendo essa postura criticada pelos próprios europeus, é “implicitamente<br />

justificada na medida em que simbolizava a implantação do reino cristão”. 92<br />

Dentre as inúmeras atrocidades cometidas contra os indígenas, exporemos o modo<br />

como alguns conquistadores cristãos agiam sem o mínimo de escrúpulos e com grande<br />

crueldade com as crianças:<br />

“Alguns cristãos encontraram uma índia, que trazia nos braços uma criança que estava amamentando; e<br />

como o cão que os acompanhava tinha fome, arrancaram à criança dos braços da mãe e, viva, jogaramna<br />

ao cão, que se pos a despedaçá-la diante da mãe (…). Quando havia entre os prisioneiros mulheres<br />

recém-paridas, por pouco que os recém-nascidos corassem pegavam-nos pelas pernas e matavam-nos<br />

contra as rochas ou jogavam-nos no mato para que acabassem de morrer” 93 .<br />

Esses atos violentos, desfechados contra os indígenas, em grande parte dos casos, se<br />

relacionam com a avidez pelo ouro (ou metais e pedras preciosas) demonstrada pelos<br />

europeus desde o primeiro contato que tiveram com a América, mesmo que ela fosse<br />

id<strong>ea</strong>lizada, como Colombo o fazia ao dizer em carta ao Papa (1502) que dentro de algum<br />

tempo, a empresa das Índias possibilitará a preparação e o pagamento de um exército de<br />

cinqüenta mil infantes e cinco mil cavaleiros para libertar a Terra Santa dos infiéis 94 . Na Ilha<br />

de Hispaniola, os índios deveriam pagar um tributo em ouro aos espanhóis e aqueles que não<br />

o pagassem teriam suas mãos cortadas fora – essa prática está retratada em uma gravura,<br />

onde: “os índios aparecem cambal<strong>ea</strong>ndo, olhando com surpresa para tocos de braços de onde<br />

jorrava sangue” 95 . Essa febre por ouro é perfeitamente sintetizada nas palavras de Cortés<br />

quando este diz, aos Astecas, que os espanhóis possuem uma doença que só pode ser curada<br />

91 TODOROV, Tzvetan. Op. cit., p. 44.<br />

92 GIUCCI, Guillermo. Viajantes do Maravilhoso… Op. cit., p. 141-142.<br />

93 TODOROV, Tzvetan. Op. cit., p. 136-137.<br />

94 MAHN-LOT, Marianne. Op. cit., p. 103.<br />

95 KONING, Hans. Op. cit., p. 72.<br />

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