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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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“Colombo relaciona perdão divino com provisão de alimentos; Alvarez Nunez, bem-estar dos indígenas<br />

com prosseguimento da viagem rumo a oeste. Ao manipular o sagrado, Staden também persegue um<br />

objetivo especifico: não ser devorado” 19 .<br />

Podemos dizer que as ações de Hans Staden, ao manipular com certo oportunismo, as<br />

crenças indígenas, são as de um “homem desesperado, que treme e teme (…) que as explora<br />

para adiar a sua morte, que as crítica para preservar sua vida” 20 . Podemos vislumbrar os<br />

efeitos da manipulação que Staden fez com as crenças indígenas, ao tomarmos as velhas<br />

índias como exemplo, pois Staden mostrou pavor frente às velhas nativas que com arranhões e<br />

pancadas am<strong>ea</strong>çavam devorá-lo, só que as mesmas velhas que lhe atormentavam, pediram<br />

desculpas, após uma doença (Staden não diz qual) grassar sobre a aldeia, pedindo que ele não<br />

as deixasse morrer:<br />

“Tratamos desse modo a ti por que pensamos que eras português, contra os quais temos rancor. Já<br />

aprisionamos e comemos também alguns portugueses que comemos, porém o seu Deus não se irou<br />

tanto como o teu. Reconhecemos que tu não és português” 21 .<br />

No final, Staden granjeou êxito na preservação de sua vida, sendo resgatado por um<br />

navio francês, depois que estes convenceram o chefe Abati-Poçanga da origem francesa do<br />

prisioneiro. De volta a Europa, são e salvo, da aventura de nove meses entre os tupinambás,<br />

onde correu constantemente perigo de ser devorado em ritual antropofágico, Staden<br />

transformou essa aventura, na obra: Duas viagens ao Brasil, publicada no ano de 1557 – “em<br />

Marburg, na ‘Folha de Trevo’, por André Kolbe” 22 . Segundo o próprio Staden, essa obra não<br />

foi escrita com o intuito de angariar fama, ou “pelo prazer de escrever alguma coisa nova, mas<br />

para trazer à luz os benefícios que Deus me prestou” 23 . Esta obra obteve enorme sucesso<br />

editorial, tanto que no mesmo ano em que foi publicada, teve duas edições: uma em Marburg<br />

e a outra em Frankfurt, sendo que “a primeira seria ornada com gravuras feitas pelo próprio<br />

autor, ou executadas sob a sua orientação, enquanto a segunda, a de Frankfurt, continha<br />

ilustrações bem ao gosto medieval: bruxas, fogueiras e diabos” 24 . Segundo alguns autores,<br />

nenhum outro relato do século XVI foi tão amplamente divulgado, e recebeu tantas edições<br />

em tão diversão línguas 25 . Segundo Helmut Adrä, o relato de Hans Staden é:<br />

“Admirado por etnólogos e etnógrafos, sem haver sido viajante explorador ou cientista; apreciado por<br />

geógrafos, botânicos e zoólogos, sem jamais haver gozado de instrução escolar superior; consultado por<br />

19 Ibid., p. 228.<br />

20 Ibid., p. 232.<br />

21 STADEN, Hans. Op. cit., p. 109.<br />

22 Ibid., p.17 e 198.<br />

23 Ibid., p. 121. Também há informação nesse sentido nas páginas: 37 e 196.<br />

24 VAINFAS, Ronaldo. Op. cit., p. 279.<br />

25 STADEN, Hans. Op. cit., p. 19-24.<br />

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