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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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desejável e o odioso. (…) Dessa forma o maravilhoso não apenas assinalava o novo, mas faz a<br />

mediação entre o fora e o dentro – o vê ou pensa que vê 21 – pois seu eixo de sustentação baseia-se num<br />

sistema de oposição: reside na diferença, no contrário ao conhecido, no inaudito” 22 .<br />

O maravilhoso dominou o imaginário da era dos descobrimentos, constituindo-se na<br />

figura central da resposta inicial dos europeus ao Novo Mundo 23 , pois as regiões<br />

desconhecidas e estranhas, junto de sua natureza e de seus habitantes, despertam à curiosidade<br />

do europeu pela diferença em relação ao ambiente que estavam habituados (acostumados) a<br />

ver (através da comparação). Ao projetar suas fantasias nas terras desconhecidas, os europeus<br />

tinham “por objetivo apenas o conhecimento” 24 , que se dava através da experiência emocional<br />

e intelectual diante daquilo que é radicalmente diferente (estranho) da cultura européia. A<br />

“maravilha” – com seus mundos fantásticos povoados por prazeres sensoriais e monstros<br />

aterrorizantes – está presente nos relatos fantasiosos da literatura da Idade Média e do<br />

Renascimento, nos relatos de viajantes, no diário dos conquistadores, nas memórias dos<br />

missionários e na filosofia de autores como Montaigne, Descartes e Spinoza: o qual considera<br />

o maravilhoso um modo de concepção (imaginatio), ou seja, o maravilhoso se configura num<br />

componente quase inevitável do discurso da descoberta, pois por definição, ele é um<br />

reconhecimento instintivo da diferença 25 .<br />

Outra conseqüência desse impacto (choque cultural), foi que, à descoberta da América<br />

forneceu os subsídios necessários para que os símbolos/signos do maravilhoso ganhassem<br />

vigor, e se transformassem no instrumento (filtro da r<strong>ea</strong>lidade), pelo qual os europeus – em<br />

especial os viajantes – descreveram (em seus relatos/crônicas) esse Novo Mundo e seus<br />

habitantes. Sendo que esses símbolos/signos do maravilhoso expressam a mentalidade, não<br />

apenas dos viajantes, mas da sociedade européia ocidental, em especial, dos ibéricos – que no<br />

mesmo ano de 1492 reconquistam a península ibérica dos mouros (infiéis), cujo marco é a<br />

capitulação de Granada –, da época das grandes navegações, a qual tinha características<br />

medievais, cuja marca indelével é a teologia cristã 26 .<br />

21<br />

Ibid., p. 40.<br />

22<br />

GIUCCI, Guillermo. Op. cit., p. 65.<br />

23<br />

GREENBLATT, Stephen. Op. cit., p. 31.<br />

24<br />

Ibid., p. 37.<br />

25<br />

SPINOZA, Baruch. Chief Works. Trad. Ingl. R. H. M. Elwes, 2 vols. Londres: George Bell & Sons, 1884, II.<br />

174 Apud GREENBLATT, Stephen. Op. cit., p. 37.<br />

26<br />

“O entendimento do mundo medieval é marcado pela teologia cristã que vê o universo por meio da idéia da<br />

harmonia e da perfeição. A capacidade de criar o maravilhoso, o fantástico faz parte da episteme medieval. Na<br />

sociedade medieval as lendas relativas a seres mágicos e excepcionais que habitam mares e ilhas estão<br />

claramente presentes e passam a constituir um elemento importante para se entender aquele período histórico e<br />

mesmo os descobrimentos.” DIEGUES, Antonio Carlos. Op. cit., p. 149.<br />

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