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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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Nos escritos analisados do Pe. José de Anchieta, não há referências à participação de<br />

europeus no ritual antropofágico, nem como expectadores, com exceção ao próprio Anchieta<br />

e outros padres, pois estes não estavam presentes nas festas como convidados para selar uma<br />

aliança, como poderia acontecer com colonos portugueses ou corsários franceses, mas<br />

estavam lá para tentar impedir tal morte e se isso não fosse possível, os padres faziam de tudo<br />

para batizar os cativos e salvar-lhes a alma, nem mesmo no papel de vítima, pois todos os<br />

mortos nas ocasiões que Anchieta descreve são índios. O que chama a atenção nesse fato é<br />

que um dos mortos no ritual antropofágico é um menino de três anos, o qual Anchieta não<br />

especifica se fora capturado em uma expedição guerreira, ou se era filho de algum prisioneiro<br />

de guerra, pois os índios concebiam o filho de um prisioneiro, mesmo que gerado por uma<br />

mulher da tribo, como um inimigo, que tinha o mesmo destino de seu pai, a morte ritual, que<br />

podia dar-se logo ao nascer ou algum tempo depois, como parece ser o caso.<br />

2 – Com relação às guerras indígenas, como o autor se referencia a elas?<br />

Anchieta não relata o modo de guerr<strong>ea</strong>r indígena no campo de batalha (não diz nada<br />

sobre a racionalidade das guerras indígenas), nem a maneira como se preparavam para ir à<br />

guerra, embora Anchieta tenha participado de algumas expedições bélicas, porém descreve<br />

que os índios canalizavam todos os seus esforços para a guerra, ou seja, ele percebe que a<br />

guerra tinha uma importância para os índios, e também que eles não empreendiam as<br />

expedições bélicas, apenas para combate aos seus contrários (inimigos), mas para fazer<br />

cativos (prisioneiros):<br />

116<br />

“Muita cousa que se conta dos índios, às quais ajuntarei algumas, de suas guerras, nas quais como<br />

tinham posto quase todos os seus pensamentos e cuidados, e neles se se pudesse ver, quão vagas são a<br />

virtude e doutrina da vida cristã, os dias passados encontrados os inimigos vieram a um lugar, e<br />

tomaram muitos cativos. Um deles dizia haver de se matar em uma povoação perto de Piratininga; com<br />

seus cantos vimos as festas como é costume (…)” 27 .<br />

Sendo que esses prisioneiros de guerra, segundo Anchieta, se constituíam na maior<br />

honra que um índio podia conseguir em campo de batalha. Contudo, esses prisioneiros não<br />

eram destinados a trabalhar para seus donos como escravos, ou serem vendidos/trocados por<br />

outras mercadorias, mas eram tratados com brandura por seu captor, inclusive servindo, não<br />

como moeda de troca, mas como um presente que podia ser destinado a quem o índio que o<br />

capturou quisesse dar, cujo objetivo era quebrar-lhe a cabeça para ganhar um novo nome:<br />

27 Ibid., p. 105.

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