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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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nos arredores da capitania do Rio de Janeiro apenas 7 mil restaram no ano de 1600” 137 , ou<br />

seja, uma queda da população indígena na ordem de 93.2% em um século de contato com os<br />

portugueses. Em outros pontos da América portuguesa, como na Bahia, ocorreram<br />

devastadoras epidemias de varíola que ceifaram a vida de milhares de indígenas entre os anos<br />

de 1562 e 1563.<br />

“A varíola dizimou a população silvícola, sendo responsável pela extinção de muitas tribos. Para isso<br />

concorreu o procedimento odioso de muitos dos colonos. Depois das revoltas de algumas tribos<br />

indígenas na capitania da Bahia, muitos brancos, desejosos de exterminá-las, não hesitavam em mandar<br />

atirar à beira das matas colchões e cobertas que haviam servido a escravos vitimados pelas bexigas. Os<br />

índios ignorantes arrecadavam esses despojos para aproveitá-los e assim, criminosamente, se<br />

propagavam pelo sertão epidemias trágicas, de aniquiladores efeitos” 138 .<br />

No que se refere às estratégias utilizadas pelos padres jesuítas para converter os índios<br />

ao cristianismo, temos que elas se concentram em três pontos: a conversão dos principais, a<br />

doutrinação dos jovens, principalmente as crianças (curumins) e a eliminação dos pajés.<br />

Quanto à conversão dos principais, os jesuítas se desapontaram, pois achavam que estando<br />

eles convertidos ao cristianismo, o restante dos índios seguiriam o mesmo caminho, mas os<br />

próprios padres perceberam que isso não ocorria porque o principal indígena não tinha grande<br />

poder perante seus “subordinados” para obrigá-los a se converterem. Quanto às crianças:<br />

“A ideologia pedagógica jesuítica parece, também aqui, um momento de transição. Ela encara a criança<br />

como criança no sentido medieval, na medida, em que acha que o adulto é uma “continuação” da<br />

criança – ou: a criança é um pequeno adulto. Mas também encara a criança como algo autônomo no<br />

sentido de que é capaz de transformar – e fiscalizar – os padrões culturais de seus ancestrais” 139 .<br />

A eliminação dos pajés ou feiticeiros era considerada pelos jesuítas como fundamental<br />

para a conversão dos indígenas ao cristianismo, pois os pajés eram os guardiões da cultura e<br />

das tradições indígenas, as quais os jesuítas queriam extirpar e alterar (adaptar).<br />

“Um índio adquiria o status de pajé ao demonstrar habilidades mágicas e capacidade de comunicar-se<br />

com os espíritos. Qualquer pessoa que cumprisse esses pré-requisitos poderia assumir o papel de pajé. A<br />

primeira habilidade necessária para que uma pessoa se tornasse pajé era o domínio da arte da sucção. A<br />

sucção era a principal técnica usada pelos índios para tratar as doenças contraídas através do contato<br />

com plantas e animais da floresta. O pajé também devia ser perito em técnicas mais imateriais como o<br />

canto e a magia. As maracás eram potes de cerâmica com poderes medicinais e mágicos, que estes<br />

curandeiros usavam para predizer o tempo e o futuro. Os índios acreditavam que os pajés que<br />

conseguiam utilizar as maracás com sucesso eram capazes de se comunicar com os espíritos, habilidade<br />

essa também manifestada através de cantos”.<br />

137 LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. “Bartolomé de lãs Casas e a lenda negra”. In: VAINFAS, Ronaldo (Org.).<br />

América em tempo de Conquista. Rio de Janeiro: Zahar, 1992, p. 112 apud KOK, Maria da Glória. Op. cit., p.<br />

129.<br />

138 VIVALDO, Coaracy. Memórias da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio,<br />

1965, p. 356.<br />

139 NEVES, Luiz Felipe Baêta. Op. cit., p. 96.<br />

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