20.04.2013 Views

cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A par disso, vê-se que as crenças que esses <strong>cronistas</strong> possuíam, influenciaram e<br />

interferiram em suas interpretações acerca das coisas do Novo Mundo. Contudo, essas<br />

descrições bas<strong>ea</strong>das nessa mentalidade medieval sustentada pelo maravilhoso – o<br />

desconhecido e estranho aos olhos europeus – só tem validade para o período da descoberta<br />

(choque ou contato inicial) e para o subseqüente, o do conquista, sendo que a partir do<br />

momento em que a conquista está finalizada e garantida, se inicia a colonização efetiva dessas<br />

novas terras, e isso, junto do acúmulo das experiências vivenciadas no período inicial, faz<br />

com que as interpretações bas<strong>ea</strong>das no maravilhoso se tornem inadequadas para representar a<br />

nova r<strong>ea</strong>lidade que se impõem frente aos olhos dos europeus (conquistadores).<br />

Contudo, o maravilhoso não se extingue totalmente, ele ganha uma sobrevida ao<br />

mesmo tempo, que se desgasta frente à mentalidade européia (em especial a dos<br />

conquistadores), principalmente no que diz respeito à representação da r<strong>ea</strong>lidade concreta do<br />

Novo Mundo. Isso ocorre por causa da característica do maravilhoso de “sofrer<br />

deslocamentos contínuos e ainda assim permanecer elusivo” 34 . Então, quando as ár<strong>ea</strong>s<br />

conquistadas se esvaziam dos sonhos de riquezas – tesouros deslumbrantes –, o maravilhoso<br />

faz esses sonhos, ou melhor, ilusões, ressurgirem, geralmente metamorfos<strong>ea</strong>dos a partir das<br />

incorporações das lendas nativas, em outras regiões ainda inexploradas – “na América o<br />

maravilhoso e a imagem de riquezas coincidiram” 35 . Um dos casos mais famosos se remete a<br />

procura da lendária cidade de ouro de El Dorado (Manoa) 36 – esse mito de ouro (riquezas),<br />

enobrecimento e fama (reputação), ceifou a vida de inúmeros conquistadores e aventureiros,<br />

que a procuraram desde as densas florestas até os áridos desertos da América.<br />

Com respeito, as crenças que os viajantes (<strong>cronistas</strong>) possuíam e que formaram o seu<br />

imaginário/mentalidade, ou seja, a sua bagagem cultural 37 , com a qual singravam os mares<br />

para ao chegar ao desconhecido, e o interpretar a partir desse ponto de vista. Elas foram<br />

adquiridas (formadas) através da literatura a que esses viajantes tiveram acesso, sendo esta<br />

literatura é bas<strong>ea</strong>da em relatos de viagens fantásticas, rech<strong>ea</strong>das de um repertório mitológico,<br />

rumo a lugares longínquos (inóspitos) da terra, que na maioria dos casos é atingida uma única<br />

34<br />

GIUCCI, Guillermo. Op. cit., p. 79.<br />

35<br />

Ibid., p. 13.<br />

36<br />

ROY, Gabriel. A Busca do El Dourado. Revista de História. São Paulo: EDUSP, v. 49, n° 99, p. 45-60,<br />

julho/setembro, 1974.<br />

37<br />

A bagagem de todos os viajantes está repleta de valiosos componentes que escapam à visão e ao tato. (…)<br />

quem viajam carrega em seus caminhos uma bagagem cultural de que fazem parte lembranças, emoções e todo<br />

um vasto e confuso mosaico de aspirações, instintos, frustrações, além de enorme variedade de sentimentos<br />

dificilmente apreensíveis: se fosse possível conhecer a carga invisível de um viajante, a compreensão que<br />

teríamos de suas motivações seria surpreendente, diferindo bastante do que o discurso historiográfico, na ânsia<br />

de aplainar diferenças procurou registrar como razão de seus atos. MICELLI, Paulo. O Inferno no Espelho do<br />

Céu. Revista Brasileira de História. São Paulo: ANPUH/CNPq, v. 11, n. 21, p. 77-99, set.90/fev.91, p. 81.<br />

10

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!