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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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(franciscano), do Frei Yves D’Evreux (capuchinho), do Frei Claude D’Abbeville<br />

(capuchinho), entre inúmeros outros.<br />

No que diz respeito a esses relatos, deve-se levar em consideração três aspectos: em<br />

primeiro lugar, que esses <strong>cronistas</strong> do século XVI – tanto os <strong>leigos</strong> como os <strong>religiosos</strong> – se<br />

inscrevem no contexto da conquista/colonização do Novo Mundo, ou seja, eles<br />

descrevem/narram os fatos contidos em suas crônicas – entre esses fatos se encontra a questão<br />

da antropofagia indígena – sob o viés do europeu como elemento civilizador (levando em<br />

consideração o seu padrão cultural e cristão), em segundo lugar, deve-se levar em conta, que a<br />

maioria desses <strong>cronistas</strong> viram/presenciaram a antropofagia indígena nas mais diversas<br />

regiões do continente americano – neste trabalho nos interessa a região da América<br />

portuguesa (Brasil) –, mas não escreveram suas obras aqui, mas na Europa, com exceção das<br />

cartas dos jesuítas. Contudo é preciso ressaltar que embora tenham escrito (em grande parte)<br />

suas obras na Europa e não aqui no Novo Mundo, estes <strong>cronistas</strong> seiscentistas escreveram-nas<br />

sob o impacto do contato com o outro – que até então tinha sua existência ignorada – (choque<br />

cultural). Sendo que este outro se materializa na figura do indígena e suas diversas<br />

sociedades. E em terceiro lugar, que esse contato altera e fundamenta o pensamento<br />

(mentalidade) europeu, principalmente, no que diz respeito às políticas de colonização da<br />

América e o tratamento que é dispensado à questão indígena, ou seja, esses escritos:<br />

“(…) correspondia ao gosto dos leitores amantes de histórias curiosas e aventuras, cuja autenticidade<br />

não os preocupava. Correspondia também aos interesses dos colonos e a razão estatal, à busca de<br />

argumentos a favor da escravidão dos índios e aos interesses da igreja que buscava razoes para sua<br />

missão civilizatória” 4 .<br />

Outro ponto importante que se deve levar em conta, em relação a esses relatos, é a<br />

questão da procedência, ou seja, a origem (nacionalidade) das pessoas que os escreveram,<br />

pois nesse período do século XVI:<br />

“Havia profundas diferenças entre as culturas nacionais e as religiões dos diversos viajantes europeus,<br />

as quais, em definitivo, moldaram suas percepções e representações. (…) Mas não se trata apenas de<br />

polêmica: católicos e protestantes tendiam a fazer diferentes perguntas, reparar em coisas diferentes,<br />

modelar diferentes imagens” 5 .<br />

Contudo, tais diferenças, inicialmente não causaram uma grande diferença de<br />

interpretação/descrição nesses relatos, pois o “capital mimético europeu embora distinto e<br />

4 FLEISCHMANN, Ulrich, ASSUNÇÃO, Matthias Rohrig & ZIEBELL-WENDT, Zinka. Os Tupinambás:<br />

R<strong>ea</strong>lidade e Ficção nos Relatos Quinhentistas. Revista Brasileira de História, São Paulo: ANPUH/CNPq, v. 11,<br />

n. 21, p. 125-145, set.90/fev.91, p. 139.<br />

5 GREENBLATT, Stephen. Possessões Maravilhosas: o deslumbramento do Novo Mundo. Tradução: Gilson<br />

César Cardoso de Souza. São Paulo: EDUSP, 1996 p. 24.<br />

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