cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
constituindo dentro de “parâmetros próprios (independentes) para o que era correto e<br />
incorreto em termo de sintaxe e significado”. A primeira língua que atinge tal definição é a<br />
espanhola. Antonio de Nebrija lança a primeira gramática espanhola no ano de 1492 e diz “a<br />
rainha que a língua é a companheira do Império” 86 . Pois, por mais que uma palavra seja<br />
escrita da mesma forma em diferentes línguas, o seu significado pode ser semelhante ou<br />
completamente diferente, como é o casso do termo posse – possession em inglês; posse em<br />
português; posesión em espanhol; possesio em holandês; possession em francês –, cuja<br />
sutileza na diferença de seu significado, muitas vezes ignoradas ou interpretadas<br />
erron<strong>ea</strong>mente nas traduções alteravam o sentido do que se devia entender, sendo notório, que:<br />
“Cada código legal europeu definia o significado (e a história) da posse, do domínio, da autoridade e da<br />
soberania r<strong>ea</strong>l de forma diferente. As ações ou praticas simbólicas para a instituição da autoridade<br />
diferiam muitas vezes de forma flagrante de uma nação européia pra outra” 87 .<br />
Nas cerimônias de posse ocorre o encontro (contato) entre os europeus e os indígenas,<br />
sendo que concomitantemente, ao tomar posse das terras, os europeus subjugam as<br />
populações nativas. Um dos aspectos mais importantes desses encontros se refere que o<br />
“procedimento relativo ao outro não gira em torno de uma problemática ética, e sim da<br />
efetividade das estratégias de dominação” 88 sobre o outro, ou seja, o indígena, sendo que o<br />
modo como o indígena é visto, interfere no modo de ação que os europeus tomarão.<br />
Nos contatos iniciais os indígenas são descritos pelos europeus como pessoas de uma<br />
imensa simplicidade, muito gentis, inocentes, pois não sabem fazer mal algum, medrosos,<br />
pois se um dos europeus quisesse se divertir ele poderia sozinho fazer fugir cem deles e aptos<br />
a aprender a língua européia e a religião cristã, pois não possuíam nenhuma seita e não eram<br />
idolatras, além de saberem que existe um Deus no Céu. 89 Porém, essa concepção edenizante é<br />
logo deixada de lado por uma mais r<strong>ea</strong>lista, quando os europeus acham provas da existência<br />
da prática antropofágica entre os indígenas, a qual consideravam como uma prática indigna de<br />
um homem cristão e civilizado e por isso os indígenas passaram a ser considerados como<br />
inferiores aos europeus. Dessa forma era justificado ao mesmo tempo o expansionismo<br />
europeu, que se personifica na própria expressão que Colombo utilizava para o seu<br />
empreendimento: “La empresa de las Índias” – “nome perfeito, pois sua força motora<br />
consistia na procura de lucros” 90 , que poderiam se dar através dos metais preciosos, do<br />
86 Ibid., p. 16.<br />
87 Ibid., p. 19.<br />
88 GIUCCI, Guillermo. A Visão Inaugural do Brasil… Op. cit., p. 59.<br />
89 MAHN-LOT, Marianne. Op. cit., p. 57.<br />
90 KONING, Hans. Op. cit., p. 9.<br />
21