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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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“Vários mapas-múndi da época revelam certa simetria, sobretudo os circulares, nos quais existiam duas<br />

zonas temperadas, duas polares e uma tórrida não-habitada. Em muitos deles, no ápice do circulo,<br />

situava-se o paraíso terrestre. Existia também uma gradação de valores dos espaços, partindo-se<br />

daqueles menos valorizados, a zona tórrida, para os mais valorizados, o ecúmeno europeu e finalmente<br />

o paraíso terrestre que se supunha existir no norte ou no oeste” 56 .<br />

Outros mapas seguem o plano “T em O”, ou seja, uma circunferência limitada<br />

perifericamente pelo oc<strong>ea</strong>no que é dividido em mares e rios interiores, onde os três<br />

continentes conhecidos – Europa, África e Ásia – estão dispostos de modo que a cidade de<br />

Jerusalém seja exatamente o centro desse mapa, ou seja, do mundo. 57 Contudo, essas formas<br />

de representação começam a sofrer alterações na forma de representar o mundo e em sua<br />

composição com o advento de novas técnicas. As novas terras surgem no oeste, desse modo<br />

Jerusalém se desloca para o leste e deixa assim de ser o centro do mundo, porém mesmo<br />

representando agora grande parte do mundo – a Oc<strong>ea</strong>nia, ou Novíssimo Mundo só é<br />

descoberta no século XVIII –, o que demonstra que o mundo se expandiu, essas cartas<br />

(mapas) ainda se mostram imprecisas na demarcação de fronteiras e contornos,<br />

principalmente no que diz respeito às novas terras – continente americano propriamente dito –<br />

e as ilhas, cuja imprecisão em sua localização aumentava:<br />

“(…) a força e o prazer da imaginação e da fantasia, que representavam e situavam as terras<br />

desconhecidas pelos espaços dos mares também desconhecidos. Essa imprecisão na localização das<br />

ilhas distantes e paradisíacas potencializa o mirífico e o maravilhoso medieval” 58 .<br />

Com relação às representações cartográficas, pode-se notar que elas passam, no século<br />

XVI, no que tange a representação das terras recém-descobertas, por três estágios distintos<br />

que demonstram as concepções européias sobre essas terras, mas também, deve-se levar em<br />

conta, que esses primeiros viajantes, cujas informações eram levadas em conta para a<br />

confecção dos mapas, viam apenas uma parte, o resto eles apenas imaginavam, pois a<br />

“imaginação fornece e amplia o campo perceptivo, abrangendo vales e colinas distantes, toda<br />

uma ilha ou todo um continente, e o pouco que r<strong>ea</strong>lmente se viu torna-se por metonímia, uma<br />

representação do todo” 59 . No que diz respeito à representação do Brasil, temos que:<br />

“(…) o primeiro [estágio], de absoluto maravilhamento, levou os cartógrafos a objetivar lindos<br />

papagaios e uma vegetação exuberante no que já se conhecia do Novo Mundo. O Brasil vira ‘Terra<br />

Papagalli’ em uma carta de 1507. Transforma-se, pela necessidade da conversão dos infiéis, em ‘Terra<br />

Sancte Crucis’ ainda em 1508. Já em 1519, o segundo momento se sobrepõe ao primeiro, e o<br />

maravilhamento cede lugar ao medo e a desconfiança: um dragão – considerado um dos receptáculos<br />

mais comuns do Demônio – cuspindo chamas é representado em uma das capitanias centrais. Uma<br />

56 DIEGUES, Antonio Carlos. Op. cit., p. 149.<br />

57 GREENBLATT, Stephen. Op. cit., p. 64.<br />

58 DIEGUES, Antonio Carlos. Op. cit., p. 151.<br />

59 GREENBLATT, Stephen. Op. cit., p. 163.<br />

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