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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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cercar a terra, para nela cultivar uma horta/jardim e construir casas para habitação<br />

permanente, ao contrário do que, geralmente, faziam, portugueses e espanhóis, pois eles não<br />

vinham para a América com o objetivo de fixar morada, mas para negociar, coletar metais<br />

preciosos ou especiarias, ou seja, um enobrecimento, para depois retornarem aos seus<br />

reinos 78 . Os franceses ratificavam a sua posse das terras através de uma encenação t<strong>ea</strong>tral, na<br />

qual os nativos participavam como personagens secundários (e logicamente não entendiam o<br />

sentido de tal cerimônia) a fim de justificar seu domínio sobre as terras e sobre as pessoas que<br />

nela habitavam. Os holandeses embasavam o seu domínio (posse) através da confecção de<br />

mapas altamente detalhados, que eram resultado de observações e descrições detalhadas da<br />

região antes desconhecida. Os portugueses bas<strong>ea</strong>vam sua reinvidicação de posse sobre as<br />

novas terras através da descoberta, cujo significado era o de “encontrar um lugar em relação à<br />

latitude” 79 . Para tal fim os portugueses desenvolveram o que chamamos de astronomia náutica<br />

– herança dos estudiosos judeus e árabes –, que se bas<strong>ea</strong>va na observação das estrelas e não<br />

da terra em si, pois os navegantes portugueses estavam numa região, o Atlântico Sul, que<br />

nunca fora navegada anteriormente e precisavam descrever localidades que não existiam em<br />

mapas ou guias de navegação, por isso era preciso localizar-se através de objetos “mais<br />

estáveis e previsíveis que conheciam, ou seja, o Sol e as estrelas” 80 . Já os espanhóis<br />

reinvidicavam o domínio sobre as terras e os povos que nelas habitavam, através do discurso<br />

que se corporifica na figura do Requerimento (Requirimiento) que nada mais era do que um<br />

ultimato militar, cuja origem remonta a reconquista da península ibérica 81 . Este discurso<br />

deveria ser lido perante um escrivão público, o maior número de testemunhas possíveis (os<br />

próprios marinheiros constituíam essas testemunhas) e os nativos, sendo que ao final eram<br />

lavrados papéis que eram:<br />

“(…) cuidadosamente selados, preservados e levados, através de milhares de léguas oceânicas, a<br />

funcionários que por sua vez os contra-assinam e os processam de acordo com as normas legais; os<br />

documentos autenticados são um penhor da verdade da descoberta e, portanto, da legalidade da<br />

reinvidicação de posse” 82 .<br />

Basicamente esse documento requeria que os povos indígenas reconhecessem a Igreja<br />

católica como à entidade suprema do mundo, e dessa forma consentir as pregações dos padres<br />

78 KONING, Hans. Op. cit,. p. 75.<br />

79 SEDD, Patrícia. Op. cit., p. 235.<br />

80 Ibid., p. 155.<br />

81 O Requerimento não era a típica declaração de guerra ocidental ou católica nem a intimação islâmica ortodoxa<br />

para a rendição a Alá, mas uma forma nova, hibrida, que continha combinados em um único enunciado dois<br />

estilos, dois sistemas de crença. Ibid., p. 124.<br />

82 GREENBLATT, Stephen. Op. cit., p. 81.<br />

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