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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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“posto que a gente da terra vive em pecado mortal, e não há nenhum que deixe de ter muitas<br />

negras [e com nenhuma delas era casado] das quais estão cheios de filhos e é grande mal” 21 , e<br />

os definia da seguinte forma:<br />

133<br />

“É gente a desta terra que desejam a terra senhor<strong>ea</strong>da e sujeita e terem serviço dos Índios, mas isto que<br />

seja sem eles aventurarem nem uma raiz de mandioca. A este estorvo tão grande não sinto remédio se<br />

não se mandar gente que senhoreie a terra (…). Também devia de haver uma carta de Suas Altezas para<br />

a Câmara, em que declare quanto pretende a conversão do gentio, na qual não estorvem tanto; porque se<br />

isto vai como foi até aqui eu sou de voto que será escusado Colégio da Companhia e deviam-nos dar<br />

licença para ir ao Peru ou Paraguai, porque nem com cristãos nem com gentios aproveitaremos nada<br />

desta maneira (…)” 22 .<br />

Na esfera política atuou ao lado de Anchieta, na guerra entre portugueses e franceses<br />

no Rio de Janeiro, onde consegui converter alguns líderes tamoios, que lutavam ao lado dos<br />

franceses, forjando alianças pró-portuguesas. A mais importante aliança forjada foi a com o<br />

chefe temiminó Araribóia – guerreiro fundamental para a vitória portuguesa. Além de ter<br />

selado a paz com os tamoios em Iperoig. 23<br />

Nóbrega opôs-se a escravidão indígena e a considerava uma barreira à ação<br />

missionária, mas teve de fazer concessões, admitindo a escravidão de índios capturados<br />

através da guerra justa e do resgate dos prisioneiros destinados ao ritual antropofágico.<br />

Organizou os ald<strong>ea</strong>mentos em localidades próximas aos núcleos coloniais, o que transformou<br />

esses ald<strong>ea</strong>mentos em lugares propícios para a propagação de doenças (epidemias) que<br />

ceifaram a vida de milhares de índios, além de facilitar os assaltos dos colonos em busca de<br />

mão-de-obra qualificada e barata. O próprio Nóbrega, que era contra a escravização dos<br />

índios, solicitou escravos da Guiné ao rei para o serviço dos jesuítas, alegando que sem<br />

escravos que os servissem, os jesuítas teriam o seu trabalho missionário prejudicado:<br />

“A melhor cousa que se podia dar a este Colégio seria duas dúzias de escravos da Guiné, machos e<br />

fêm<strong>ea</strong>s, para fazerem mantimentos em abastança para casa, outros andariam em um barco pescando, e<br />

estes podiam vir de mistura com os que El-Rei mandasse para o engenho, porque muitas vezes manda<br />

aqui navios carregados deles” 24 .<br />

Depois desta breve apresentação sobre o Padre Manuel da Nóbrega, membro da<br />

Companhia de Jesus, de sua vida e de parte de sua obra como missionário no Brasil, cujo<br />

principal objetivo era a conversão do gentio ao cristianismo, vejamos como ele descreve a<br />

prática da antropofagia indígena em seus relatos (cartas). Essa prática, junto com a da<br />

poligamia, era segundo o próprio Nóbrega, um dos principais obstáculos (empecilhos) que os<br />

21 NÓBREGA, Pe. Manuel da. Carta ao padre mestre Simão Rodrigues… Op. cit., p. 48.<br />

22 NÓBREGA, Pe. Manuel da. Ao P. Miguel de Torres. Lisboa… Op. cit., p. 286.<br />

23 VAINFAS, Ronaldo. Op. cit., p. 461.<br />

24 NÓBREGA, Pe. Manuel da. Ao P. Miguel de Torres. Lisboa… Op. cit., p. 288.

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