cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
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Quando tudo está preparado, eles determinam o tempo em que o prisioneiro deve morrer e<br />
convidam as aldeias vizinhas (aliadas) para que tomem parte na matança do inimigo.<br />
Quando os convidados reúnem-se, o principal da aldeia dá boas vindas a eles e diz:<br />
“Vinde agora e ajudai a comer vosso inimigo” 33 . Na véspera da morte, eles começam a beber<br />
o cauim e amarram a mussurana em torno do pescoço do prisioneiro. As mulheres pintam o<br />
ibirapema e o enfeitam com borlas de penas. Estando o tacape pronto “ornado com borlas de<br />
penas e outros enfeites, será pendurado acima do chão, numa vara, numa choça vazia. Os<br />
selvagens cantam então, através da noite toda, em volta desta choça” 34 . De mesmo modo, as<br />
mulheres pintam o prisioneiro, estando este pronto, é levado ao local onde os homens estão<br />
bebendo, para beber com eles. Quando acaba a bebida, eles constroem uma pequena choça no<br />
meio do pátio para o prisioneiro (no local onde deve morrer) – “Aí passa ele a noite, sendo<br />
bem vigiado” 35 .<br />
Ao alvorecer, os índios dançam e cantam ao redor do tacape, retiram o prisioneiro e<br />
derrubam a choça para fazer espaço. Em seguida desatam a mussurana do pescoço do<br />
prisioneiro e a amarram na cintura, de modo a ficar ele no meio e nas duas pontas muitos<br />
homens seguram a corda. Colocam perto do prisioneiro algumas pedras para que “possa<br />
lançá-las nas mulheres, que lhe correm ao redor, mostrando-lhe com am<strong>ea</strong>ças que o<br />
pretendem comer” 36 . Ascendem, uma fogueira muito próxima ao escravo, de modo que este a<br />
veja. A seguir:<br />
“(…) uma mulher aproxima-se correndo com a maça, o ibirapema, ergue ao alto as borlas de pena, da<br />
gritos de alegria passa correndo em frente ao prisioneiro a fim de que ele o veja. Depois um homem<br />
toma o tacape, coloca-se com ele em frente do prisioneiro, empunhando-o, para que o aviste.<br />
Entrementes afasta-se aquele que o vai matar, com outros treze ou quatorze, e pintam os corpos de cor<br />
plúmb<strong>ea</strong>, com cinza” 37 .<br />
Ao retornar, com seus companheiros ao pátio, recebe o tacape definitivamente do<br />
principal, e dirigi-se ao prisioneiro e diz a este:<br />
“Sim, aqui estou eu, quero matar-te, pois tua gente também matou e comeu muitos dos meus amigos.<br />
Responde-lhe o prisioneiro: ‘Quando estiver morto, terei ainda muitos amigos que saberão vingar-me’.<br />
Depois golpeia o prisioneiro na nuca, de modo que lhe saltam os miolos, e imediatamente levam as<br />
mulheres o morto, arrastam-no para o fogo, raspam-lhe toda a pele, fazendo-o inteiramente branco, e<br />
tapando-lhe o anus com um pau, a fim de que nada dele se escape. Depois de esfolado, toma-o um<br />
homem e corta-lhe as pernas, acima dos joelhos, e os braços junto ao corpo. Vem então as quatro<br />
mulheres, apanham os quatro pedaços, correm com eles em torno das cabanas, fazendo grande alarido,<br />
33 Ibidem.<br />
34 Ibid., p. 180.<br />
35 Ibidem.<br />
36 Ibidem.<br />
37 Ibid., p. 180-181.<br />
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