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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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Então, no período inicial da descoberta e no subseqüente, que é o da conquista – cuja<br />

principal característica são as campanhas militares, dentre as quais, destacam-se às de Cortes<br />

e Pizarro, contra Astecas e Incas respectivamente, sendo que essas campanhas militares não<br />

contradiziam o interesse comercial, pois a guerra era um grande negócio, menos para os<br />

soldados 27 –, onde tudo era desconhecido e estranho aos olhos dos europeus, a percepção e a<br />

descrição do novo, para se tornarem compreensíveis (familiar), manifestavam-se através da<br />

re-visitação de símbolos/signos que faziam parte do maravilhoso no imaginário medieval – o<br />

qual é marcado pela dualidade religiosa onde se destacam as “manifestações de amor-temor a<br />

Deus e ao Diabo; o primeiro, premiando e castigando de acordo com sua suprema vontade; o<br />

segundo, recolhendo para sua glória os despojos dos condenados às penas eternas” 28 .<br />

A invocação do maravilhoso medieval se torna imprescindível, pois sem ela a<br />

descrição dos novos cenários e de seus habitantes não se torna transmissível (cognitiva) para a<br />

r<strong>ea</strong>lidade européia 29 . Dessa forma, um mundo completamente desconhecido e até então<br />

inimaginável frente às crenças européias da época, se torna um mundo de semelhanças, pois o<br />

“estranho é transformado em familiar e o familiar é transformado em estranho” 30 :<br />

“Colombo fundiu duas idéias preexistentes, transformando as terras que descobrira numa mescla de<br />

Oriente fabuloso com Europa id<strong>ea</strong>lizada. Suas ilhas puderam, por isso, ser visualizadas como imagens<br />

reconhecíveis. As novidades ficaram com um aspecto familiar. (…). Colombo que de acordo com o<br />

velho chiste, ao zarpar não sabia onde estava indo e, ao voltar, não soube dizer onde estivera. Relatos<br />

são frutos da intrincada inter-relação que mantêm acesso o conflito entre tradição e renovação” 31 .<br />

Desse modo, Colombo iniciou um longo trajeto, que será seguido por outros <strong>cronistas</strong>,<br />

de visualização da Europa na América, por isso podemos dizer que Colombo “via mais com a<br />

imaginação do que com a vista” 32 , sendo que essa imaginação – a que Colombo e outros<br />

inúmeros viajantes possuíam – é formada e impregnada pela leitura de autores antigos e<br />

medievais e ainda por cima, no caso de Colombo e outros, da fé (religião) cristã. Contudo:<br />

“Colombo não acreditava somente no dogma cristão: acreditava também (e não é o único na época) em<br />

ciclopes e sereias, amazonas e homens com cauda, e sua crença, tão forte quanto a de São Pedro,<br />

permite que ele os encontre” 33 .<br />

27<br />

MICELLI, Paulo. O ponto onde estamos viagens e viajantes na historia da expansão e da conquista<br />

(Portugal, séculos XV e XVI). 3ª. edição. Campinas: Editora da Unicamp, 1998, p. 121.<br />

28<br />

Ibid., p. 33.<br />

29<br />

LANCIANI, Giulia. Op. cit., p. 24-25.<br />

30<br />

GREENBLATT, Stephen. Op. cit., p. 65.<br />

31<br />

VESPÚCIO, Américo. Op. cit., p.12.<br />

32<br />

SILVA, Janice Theodoro da. Colombo: entre a Experiência e a Imaginação. Revista de História<br />

Brasileira. São Paulo: ANPUH/CNPq, v. 11, n. 21, p. 27-44, set.90/fev.91, p. 35.<br />

33<br />

TODOROV, Tzvetan. Op. cit., p. 16.<br />

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