cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
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Podemos afirmar que Nóbrega não aproxima nenhuma dessas categorias que marcam a<br />
literatura sobre o período das grandes navegações, da descoberta e conquista do Novo Mundo,<br />
com a descrição – muito sucinta – que faz da prática antropofágica (Nóbrega presencia a<br />
prática antropofágica no Brasil no terceiro quarto do século XVI). Ou seja, Nóbrega não<br />
procura nenhum vestígio já existente/conhecido para explicar/narrar à prática antropofágica,<br />
mas também não a descreve, e quando faz isso, não a procura entender, porque essa prática<br />
indígena vai contra o motivo que o trouxe ao Brasil, a conversão do gentio ao cristianismo.<br />
8 – O autor faz alguma ligação entre a antropofagia e a cosmologia indígena?<br />
Nóbrega não faz nenhuma ligação entre a cosmologia indígena e a prática<br />
antropofágica. Ele não cita nenhuma concepção indígena sobre a matança em terreiro,<br />
relacionando esse tipo de morte a morte id<strong>ea</strong>l, que era almejada pelos guerreiros. Ele descreve<br />
a morte de índios como se fossem europeus, pois estes estavam na hora de morrer, chamando<br />
por Deus em vez de estarem se vangloriando dos feitos de sua tribo e que a sua morte seria<br />
vingada por seus amigos.<br />
9 – O autor faz algum confronto entre a sua visão de morte e a visão de morte dos indígenas?<br />
Nóbrega não faz nenhuma comparação entre sua visão de morte com a visão de morte<br />
indígena, pois não faz nenhuma referência à visão que os índios tinham da morte, ou seja, não<br />
descreve nada sobre o além indígena. Quanto a sua visão de morte, Nóbrega ao pregar em<br />
uma aldeia, dizia aos índios que “cumpriam as coisas de Deus, que lhe ensinávamos, as quais<br />
davam para sempre vida nos céus, e que os maus, que morriam, iam para o inferno a arder<br />
com os diabos, o que lhes metia grande medo e espanto” 86 , ou seja, Nóbrega traz uma visão<br />
cristã bipartida, sendo que suas ações na terra definiram o seu destino: Céu ou Inferno.<br />
Nóbrega, quando narra à morte do bispo Sardinha, Nóbrega traz uma visão (concepção)<br />
gloriosa da morte cristã, especialmente para os padres, o martírio:<br />
147<br />
“(…) que fugindo ele dos gentios e da terra, tendo poucos desejos de morrer em suas mãos, fosse<br />
comido deles, e a mim que sempre o desejei e pedi a Nosso Senhor, e metendo-me nas ocasiões mais<br />
que ele, me foi negado. O que eu nisto julgo, posto que não fui conselheiro de Nosso Senhor, é que<br />
quem isto fez, porventura quis pagar-lhe suas virtudes e bondades grande, e castigar-lhe juntamente o<br />
descuido e pouco zelo que tinha da salvação do gentio. Castigou-o, dando-lhe em pena a morte que ele<br />
não amava, e remunerou-o em ela ser tão gloriosa como já contariam a V. M. que ela foi, pois em poder<br />
dos infiéis e com tantas boas circunstâncias como teve” 87 .<br />
86 Sem Autor. Carta dos Meninos do Colégio de Jesus da Baía ao P; Pedro Domenech… Op. cit., p. 150.<br />
87 NÓBREGA, Pe. Manuel da. A Tomé de Sousa, Portugal… Op. cit., p. 319-320.