“(…) uma enorme coisa surgir das águas, com grandes escamas no dorso, garras medonhas e cauda comprida; este animal avançava para mim sem que eu tivesse a possibilidade de livrar-me dele. Nesta emergência, adiantei-me para encontrá-lo; mas aproximando-me, detive-me atônito ao ver tão monstra coisa à minha frente. A esta altura a fera estacou e abriu a boca, lançando fora a língua longa, como um arpão. Recomendei-me a Deus, julgando que iria ser reduzido a pedaços. Entretanto a fera voltou-se e caminhou para dentro do rio, seguindo-a eu pela margem” 91 . Por fim, temos que Knivet ao voltar ao Brasil, depois de sua aventura no continente africano, seguiu Martim Correia de Sá em inúmeras expedições, tanto para traficar como para aprisionar os índios, sendo que em uma dessas expedições, ao passar por Itaoca, Knivet vê “uma seria e muitos outros peixes esquisitos” 92 . Em outra expedição, Knivet nos relata que durante o caminho até a aldeia dos tamoios, eles pararam numa aldeia de índios guaianáguaçus, onde: “(…) todos os nossos homens, índios e portugueses, adoeceram por ter comido uma espécie de fruto, de sabor agradável e doce, mas venenoso, e se não fora um moço fidalgo, por nome Onofre de Sá, parente de meu amo e que possuía um pedaço de chifre de unicórnio (…)” 93 . A partir dessa descrição, podemos dizer que, embora a obra de Knivet se encontre impregnada de referências a animais mitológicos, riquezas extraordinárias e reinos lendários. Categorias que marcam/caracterizam a literatura sobre o período das grandes navegações, da descoberta e da conquista da América, mesmo tendo sido escrita nos primórdios do século XVII. Não há nenhuma aproximação entre essas categorias com a descrição que Knivet faz do ritual antropofágico (Knivet presencia a prática antropofágica na última década do século XVI). Ou seja, ao descrever o rito antropofágico, Knivet não o descreve no sentido de estar re-encontrando algo (vestígios de coisas já conhecidas na Europa – literatura clássica) que já conhecia ou tinha ouvido falar, mas o descrevendo no sentido de observar e distinguir uma alteridade – que se personifica na figura dos índios – que difere em vários aspectos de seu referencial que é a alteridade européia. 8 – O autor faz alguma ligação entre a antropofagia e a cosmologia indígena? Knivet não faz relação alguma entre a cosmologia indígena e a antropofagia, ele não cita nem um mito sobre a origem da antropofagia entre os indígenas de nenhuma etnia. Também não comenta a questão dessa ser a morte id<strong>ea</strong>l, almejada por todo guerreiro, que os levaria para um além onde encontrariam seus antepassados e deuses. Knivet não coloca 91 Ibid., p. 38. 92 Ibid., p. 174-175. 93 Ibid., p. 67-68. Grifos do autor. 83
nenhuma opinião acerca da matança em terreno. Sobre o caso dos portugueses, ele apenas descreve o quê os índios tamoios lhe disseram: que os devoraram porque estes eram seus inimigos. Já sobre o caso dos petiguaras, diz que estes índios ao consumirem a carne do morto, acham que ela os tornará fortes e valentes (absorção/incorporação das qualidades da vítima). 9 – O autor faz algum confronto entre a sua visão de morte e a visão de morte dos indígenas? Knivet, não faz nenhum confrontamento entre as visões de morte, ele não descreve nem a sua visão de morte, nem a dos indígenas. Ele não faz nenhuma referência ao além indígena: a terra sem mal, onde os antepassados e os deuses estariam esperando os guerreiros valorosos – sendo que a porta de entrada seria a morte gloriosa em terreiro. 84
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Considerações Finais A comparaç
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