cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
índios e estrangeiros que venham a guerr<strong>ea</strong>r com os portugueses, contudo para Anchieta, isso<br />
não parece significar “suficientes sinais de matrimônio nem da parte dos que se amancebam<br />
com elas, nem dos pais ou irmãos que lhas dão” 44 .<br />
Ainda sobre o casamento, Anchieta diz que muitos homens, servem aos seus sogros<br />
antes que esses lhe dêem suas filhas como esposa, de modo que os índios que têm mais filhas<br />
são mais abastados dos que têm apenas filhos homens. Sobre as regras de casamento dentro<br />
da própria tribo – em especial para os índios tupis –, Anchieta relata que os padres casam tios<br />
com sobrinhas que ascendem por parte de suas irmãs, não sendo permitido, entre os próprios<br />
índios, o casamento com as sobrinhas que ascendem por parte de um irmão ou de outro<br />
qualquer parente da linha de seu pai 45 :<br />
121<br />
“Todos os filhos e filhas de irmãos têm por filhos e assim os chamam; e desta maneira um homem de 50<br />
anos chama pai e por esta ordem tem grande reverência a todas as mulheres que vêm pela linha dos<br />
machos, não casando com elas de nenhuma maneira, ainda que sejam fora do quarto grau. As sobrinhas,<br />
filhas de irmãs e ‘deinceps’ têm por verdadeiras mulheres e comumente casam com elas, ‘sine<br />
discrimine’” 46 .<br />
Anchieta relata, com grande pesar, que são mandadas para o céu, a alma de muitas<br />
crianças que são mortas, por suas próprias mães logo que nascem, mas também que são<br />
mortas crianças que ainda não nasceram (aborto). Contudo, coloca como a causa desse ato, a<br />
questão dessas mulheres estarem bravas com seus maridos e não terem medo dos mesmos, ou<br />
quando bebem, entre inúmeros outros modos que inventam para tal fim, porém Anchieta não<br />
se refere que os indígenas de uma maneira geral, tinham por costume matar as crianças que<br />
nasciam com alguma deficiência, por isso em alguns relatos, os <strong>cronistas</strong> dizem que não<br />
achavam ninguém com deficiência entre os índios, mas também porque os índios concebiam,<br />
como vimos acima, que os filhos de contrários homens eram considerados também como<br />
inimigos, e dessa forma também eram mortos, senão ao nascer, logo após seu pai ser morto na<br />
cerimônia antropofágica.<br />
“Entre estas cousas acontece que se batizam e mandam ao Céu alguns meninos que nascem meio<br />
mortos, e outros movidos, o que acontece muitas vezes mais por humana malícia que por desastre,<br />
porque estas mulheres brasílicas mui facilmente movem [Eufemisticamente, Anchieta usa aqui mover<br />
em lugar de abortar]: ou iradas contra seus maridos, ou os não têm por medo; ou por qualquer ocasião<br />
mui leviana matam os filhos; ou bebendo para isso algumas beberagens; ou apertando a barriga; ou<br />
tomando alguma carga grande, e com outras muitas maneiras que a crueldade humana inventa” 47 .<br />
5 – O que o autor relata em relação às doenças que grassavam na Brasil?<br />
44 Ibid., p. 16.<br />
45 Ibid., p. 17.<br />
46 ANCHIETA, Pe. José de. Informação do Brasil e de suas Capitanias (1584). Op. cit., p. 47.<br />
47 ANCHIETA, Pe. José de. Carta ao Padre Geral, de São Vicente, em 1° de junho de 1560. Op. cit., p. 101-102.