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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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Impacto do Contato: Choque Cultural<br />

As grandes navegações empreendidas pelos países ibéricos desde o início do século<br />

XV – fazem parte do período que é comumente denominado de Era dos Descobrimentos 1<br />

(explorações) –, expandiram o horizonte e o conhecimento europeu sobre os extremos do<br />

mundo que até então eram desconhecidos e tidos como inabitáveis ou habitados por monstros<br />

pavorosos e terríveis (como arimaspos e blêmios). Estas eram as terras antípodas, que se<br />

situavam no hemisfério sul 2 e contrabalançavam o ecúmeno europeu. A existência destas<br />

terras em si não se delin<strong>ea</strong>va num problema, mas a existência de habitantes nelas, ou seja, a<br />

existência de outros homens configurava-se num problema central para os europeus, pois se<br />

estes homens de fato existissem, eles desconheceriam a mensagem de Cristo e isso traria<br />

sérias implicações 3 ao esquema de concepção do mundo para os europeus cristãos.<br />

Nesse período, uma concatenação de fatores, tornou essas viagens necessárias para os<br />

europeus, sendo que um dos fatores mais importantes se refere à conquista de Constantinopla<br />

pelos Otomanos (1453), a qual acarretou no fechamento das antigas e conhecidas rotas de<br />

comércio para a Índia e a China. Ou seja, os Otomanos passaram a dominar todo o<br />

mediterrâneo oriental e desse modo às rotas das especiarias – seda, cravo, canela, pimenta,<br />

etc. – que tanto agradavam aos europeus, além de sobretaxa-las dez vezes mais que os<br />

bizantinos. Desse modo, com o avanço das técnicas de construção naval e navegação, além do<br />

aperfeiçoamento de equipamentos já existentes, como as bússolas – o que tornou as viagens<br />

menos arriscadas –, os europeus passaram a procurar rotas alternativas para esse comércio. 4<br />

1 A Era dos Descobrimentos ou Século dos Descobrimentos compreende os séculos XV e XVI, no período de<br />

1450-1550. ALENCASTRO, Luis Felipe de. Trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul – séculos<br />

XVI e XVII. São Paulo: Cia. Das Letras, 2000, p. 11.<br />

2 O hemisfério sul era considerado um lugar inóspito que de algum modo estaria corrompido, pois nele o<br />

demônio teria se escondido depois da expulsão do Paraíso. (…). No imaginário da Idade Media essa região era<br />

habitada por monstros e não por seres humanos. Para os que acreditavam ser essas terras habitáveis, ali viviam<br />

os antípodas, seres cujos pés estariam ligados às solas dos pés dos europeus. Ali tudo estaria invertido, sendo o<br />

oposto do ecúmeno conhecido e habitável. Para outros, como para Pierre d’Ailly, resumindo o pensamento dos<br />

antigos, nessas regiões extremas viveriam os selvagens, antropófagos, com faces disformes e horrendas,<br />

resultantes do clima maléfico. Para se chegar a essa região era necessário afrontar o oc<strong>ea</strong>no terrível, o Atlântico,<br />

sempre envolvido em neblina, desprovido de ventos que pudessem movimentar os barcos. Para os cristãos de<br />

então, a existência ou não desse mundo inferior era um enigma (…) e a infinita diversidade da natureza e o vasto<br />

campo que ela oferecia à insaciável procura de explicações. DIEGUES, Antonio Carlos. Ilhas e Mares:<br />

simbolismo e imaginário. São Paulo: HUCITEC, 1998, p. 150.<br />

3 Quatro seriam as implicações básicas a esse respeito: “Primeiro, a negação da possibilidade da conversão<br />

universal; segundo, o absurdo da exigência missioneira planetária; terceiro, o questionamento da centralidade da<br />

crucificação como evento redentor da história; quarto, a desarticulação da conexão intima entre profecia bíblica e<br />

cumprimento escatológico”. GIUCCI, Guillermo. Viajantes do maravilhoso: o Novo Mundo. Tradução de<br />

Josely Vianna Batista. São Paulo: Cia. das Letras, 1992, p. 58.<br />

4 KONING, Hans. Colombo: O mito Desvendado. Tradução de Maria Carmelita Pádua Dias. Rio de Janeiro:<br />

Zahar, 1992, p. 9.<br />

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