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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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Sobre a nudez dos índios, Anchieta, nos textos analisados, não a condena, apenas diz<br />

que os índios “(…) têm grande candura natural e com andar nus non verecundant, parece que<br />

representam o estado de inocência” 35 . Entrando na questão religiosa, Anchieta, reporta-nos<br />

que os índios não adoram nenhum ídolo, e que eles não possuem nada, nem mesmo um<br />

animal/criatura que adorem que possa ser comparado com Deus, “somente os trovões cuidam<br />

que são Deus, mas nem por isso lhes fazem honra alguma”, ao mesmo tempo, Anchieta,<br />

procura dissociar os índios de alguma influência do demônio, dizendo que eles não possuem:<br />

119<br />

“(…) comunicação com o demônio, posto que tem medo dele, porque as vezes os mata nos matos a<br />

pancadas, ou nos rios, e, porque lhes não faça mal, em alguns lugares medonhos e infamados disso,<br />

quando passam por eles, lhe deixam alguma flexa ou penas ou outra coisa como por oferta” 36 .<br />

Com relação aos feiticeiros, Anchieta diz que eles se chamam pajé e são pregadores<br />

muitos estimados, cuja função é exortar os índios a guerra, a matar homens (provavelmente<br />

contrários em terreiro), entre outras façanhas, além de cuidarem de outras cerimônias:<br />

“Estes mesmos feiticeiros e outros que não chegam a tanto, costumam esfregar, chupar e defumar os<br />

doentes nas parte que têm lesas e dizem que com isto os saram e disto há já muito uso, porque com o<br />

desejo da saúde muitos se lhes dão a chupar (…)” 37 .<br />

Outro costume indígena que Anchieta descreve, é o modo peculiar como recebem<br />

parentes e amigos em suas aldeias, pois logo que a pessoa chega/volta à aldeia depois de<br />

algum tempo, as mulheres, atiram-se sobre ela e põem-se a chorar como se alguém tivesse<br />

morrido, contudo elas não estão tristes, mas exortam nesse ato uma grande felicidade 38 . Essa<br />

cerimônia é conhecida como saudação lacrimosa e era muito comum entre as tribos tupis.<br />

Também relata que é muito difícil que índios de uma mesma aldeia briguem entre si, contudo<br />

se ocorrer uma briga, o que segundo Anchieta ocorre frequentemente nas festas onde<br />

consumem seus vinhos em demasia, eles escondem suas armas, porque se ocorrer uma morte<br />

desse tipo, “(…) as vezes acontece dividir-se uma nação com guerra civil e matarem-se e<br />

comerem-se como aconteceu no Rio de Janeiro” 39 .<br />

Quando Anchieta fala que os índios são muito dados ao vinho, ele quer se referir à<br />

bebida de raízes de mandioca ou de milho, que os índios chamam de cauim. Anchieta<br />

descreve o modo como essa bebida é preparada e que os índios a consumem no lugar de<br />

outros alimentos, principalmente na ocasião em que matam um índio inimigo:<br />

35<br />

ANCHIETA, Pe. José de. Informação da Província do Brasil para nosso Padre – 1585. Op. cit., p. 12.<br />

36<br />

ANCHIETA, Pe. José de. Informação do Brasil e de suas Capitanias (1584). Op. cit., p. 48.<br />

37<br />

Ibid., p. 49.<br />

38<br />

ANCHIETA, Pe. José de. Informação da Província do Brasil para nosso Padre – 1585. Op. cit., p. 13.<br />

39<br />

ANCHIETA, Pe. José de. Informação do Brasil e de suas Capitanias (1584). Op. cit., p. 47.

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