cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Considerações Finais<br />
A comparação, mesmo tendo sido feita de forma fragmentada, ou seja, em pontos, os<br />
quais circundam o ritual antropofágico indígena, demonstrou que existem semelhanças e<br />
diferenças entre os relatos dos quatro <strong>cronistas</strong> analisados: Hans Staden, Anthony Knivet, Pe.<br />
José de Anchieta e Pe. Manuel da Nóbrega. Sendo que as diferenças que existem entre esses<br />
relatos do século XVI são muito mais significativas (relevantes) que as semelhanças<br />
existentes entre eles.<br />
A diferença que existe entre esses <strong>cronistas</strong> na descrição do ritual antropofágico<br />
refere-se que Staden e Knivet o descrevem, embora cada um enfatize um aspecto diferente,<br />
pormenorizadamente, desde a captura do prisioneiro, passando pela morte em terreiro, até o<br />
consumo de sua carne, já os <strong>religiosos</strong> descrevem apenas a morte em terreiro, dando por<br />
encerrado tal ritual com a quebra da cabeça do prisioneiro. Outra diferença consiste que os<br />
<strong>religiosos</strong> procuram em suas descrições afastar essa morte do id<strong>ea</strong>l indígena, ou seja, eles<br />
descrevem essas mortes mostrando o cativo com medo ou rogando a Deus, em vez de, como<br />
fazem os <strong>leigos</strong>, mostrar o cativo altivo e feliz com tal destino. Desses <strong>cronistas</strong>, apenas<br />
Knivet relata a existência de um outro tipo de antropofagia, a funerária. Nóbrega e Staden<br />
descrevem que europeus participavam do ritual antropofágico, sem ser no papel de vítima,<br />
sendo que Staden apenas mostra que eles participavam, mas não comiam a carne do<br />
prisioneiro morto, enquanto Nóbrega descreve que europeus não apenas participavam como<br />
às vezes assumiam a função do matador e ainda que alguns deles comessem a carne do<br />
prisioneiro, mas era para dar bom exemplo a seus índios (escravos).<br />
A diferença entre as descrições de Staden e Knivet (<strong>leigos</strong>) com as descrições de<br />
Anchieta e Nóbrega (<strong>religiosos</strong>), também é notada na descrição sobre as guerras indígenas<br />
(questão 2), nos mitos indígenas (questão 3) e na cultura material e nos costumes – muito<br />
mais nos costumes (questão 4). As descrições dos quatro <strong>cronistas</strong> são iguais, ou seja, não<br />
apresentam nenhuma diferença significativa, no tocante ao map<strong>ea</strong>mento étnico (questão 6) e<br />
por não apresentarem nenhuma ligação entre a antropofagia e a cosmologia indígena (questão<br />
8). Em três pontos a descrição de Knivet difere das descrições de Staden, Nóbrega e Anchieta,<br />
sendo elas a descrição sobre o maravilhoso, a zoologia e a geografia fantástica (questão 7), a<br />
descrição das doenças (questão 5) e o confronto entre as visões de morte do cronista com a<br />
dos indígenas (questão 9). Contudo, deve-se ressaltar, que mesmo tendo semelhanças, as<br />
descrições de Nóbrega e Anchieta diferem principalmente quanto à intenção (objetivo) da<br />
descrição de Staden.<br />
162