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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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vivenciou, onde doze portugueses foram devorados pelos tamoios, após estarem apenas três<br />

horas em poder dos indígenas, o que contrária o que outros relatos descrevem, de que o<br />

prisioneiro passa meses ou até anos em convivência com seus captores antes de ser morto<br />

ritualmente e também que os indígenas não matariam todos os portugueses seguidamente.<br />

Quanto à descrição do ritual em si, ele detalha bem, principalmente no aspecto do<br />

diálogo que o executor trava com aquele que deve executar, o único detalhe (talvez o<br />

problema seja novamente a tradução da obra) que não menciona é que o prisioneiro também<br />

dirige a palavra, não apenas ao executor, mas a todos que se encontram presentes em sua<br />

morte, se vangloriando de seus feitos e dos de sua tribo, perpetuando/renovando desse modo o<br />

ciclo de vingança. Ele também detalha o modo como os índios destrincham o corpo da vítima,<br />

dizendo que todos, mesmo mulheres e crianças deveriam alimentar-se do morto. A<br />

significação que Knivet dá a todo este ritual é a de que os índios ao consumirem o carne do<br />

morto, ela os torna forte e valentes (absorção/incorporação das qualidades da vítima) e que os<br />

índios fazem isso apenas com seus inimigos. Desse modo, podemos dizer que Knivet tem uma<br />

visão pragmática da antropofagia, pois em nenhum dos dois casos que descreve<br />

pormenorizadamente, ele descreve tal ritual com requintes de crueldade, ou diz que tal ato vai<br />

contra a natureza humana. Ao contrário do que descreve dos portugueses, embora esses não<br />

comessem carne humana, ele comumente aponta para a crueldade com que os portugueses<br />

tratavam os indígenas (também os escravos africanos), sendo que ele próprio desejava, em<br />

suas fugas, a perecer por algum animal selvagem do que voltar para as mãos dos cruéis<br />

portugueses.<br />

b) Há referência à antropofagia funerária?<br />

Na obra de Knivet, há um indício da antropofagia funerária. Este acontece quando ele<br />

descreve uma tribo chamada por ele de mariquitás, sendo esta a primeira tribo que ele chama<br />

de tapuia, não por que ele sabe, mas por que eles são alcunhados de tapuias por outros grupos<br />

indígenas, sendo que esta denominação – tapuia – na língua dos outros índios, provavelmente<br />

a tupi, significa homem selvagem e “entre todos os canibais, tal nome é tido em grande<br />

desabono, exceto entre os próprios tapuias” 37 , além da informação que a língua destes índios<br />

difere de todos os outros.<br />

Ainda sobre esses índios, ele fala que eles não possuem nenhuma moradia, e por isso<br />

vagueiam pelo sertão como animais ferozes, não possuem amizade com nenhuma outra tribo e<br />

37 Ibid., p. 126-127.<br />

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