cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia
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internamente competitivo, facilmente saltou sobre as fronteiras nacionais e religiosas” 6 .<br />
Porém, com a finalização da conquista e o início da colonização efetiva do Novo Mundo – o<br />
que vai gerar desavenças e hostilidades entre os países europeus –, surgiram:<br />
“(…) algumas divisões muito claras, que não apenas assinalaram a distinção entre católicos e<br />
protestantes como fragmentaram cada um desses grupos. Desde então foi possível distinguir<br />
confortavelmente entre franciscanos e dominicanos, calvinistas e luteranos em suas representações do<br />
Novo Mundo (…) com referência as diferenças bastante consideráveis entre culturas nacionais, classes<br />
sociais e profissões” 7 .<br />
Ou seja, não basta apenas rotularmos esses <strong>cronistas</strong> de acordo com a sua religião, mas<br />
também, deve-se levar em conta a nacionalidade desses <strong>cronistas</strong>, pois ao rotularmos um<br />
cronista de protestante, devemos levar em conta que esse termo cobre um conjunto diverso de<br />
pessoas de vários grupos nacionais. Entre os protestantes havia holandeses (calvinistas e<br />
anabatistas), franceses (huguenotes) e ingleses (puritanos, anglicanos e quacres). Dentro do<br />
rotulo católico encontramos franceses, espanhóis e portugueses, onde cada um desses grupos<br />
tinha concepções diferentes em relação ao seu direito sobre o Novo Mundo, aos textos e<br />
fontes de suas legitimidade (como no estabelecimento de impérios colônias). 8 Ainda temos<br />
uma divisão entre as várias ordens religiosas que vieram ao Novo Mundo, como franciscanos,<br />
dominicanos, jesuítas entre outras ordens religiosas. Contudo, embora essas obras fossem<br />
escritas por pessoas de variada procedência – tanto religiosa como nacional – elas possuem<br />
uma estrutura literária, até certo pondo comum, sendo que nessas obras:<br />
“(…) a anedota, a aventura e a fantasia se misturam com as informações sobre a terra e os<br />
acontecimentos históricos, gerando narrativas com as quais o leitor não consegue deixar de se envolver<br />
(…). O exemplo mais evidente é a obra de Hans Staden, repleta de peripécias e de episódios<br />
emocionantes, em que a vida do protagonista corre perigo. Porém, até numa carta de Anchieta (Ao<br />
padre geral, 1/6/1560) podem-se encontrar, lado a lado, a expulsão dos franceses da Guanabara e as<br />
aventuras do padre para salvar índios cristianizados que caíram prisioneiros de uma tribo antropófaga” 9 .<br />
Nesta literatura, temos que a descoberta e a conquista do Novo Mundo, junto de seu<br />
período inicial de colonização, fizeram ressurgir entre os europeus, em especial pelos relatos<br />
dos primeiros viajantes que aqui aportaram, o mito idílico do paraíso perdido (terrestre), pois<br />
achavam que um verdadeiro Éden tinha sido encontrado, pois a América aparece nesses<br />
relatos como uma terra abundante, livre das doenças que grassavam na Europa. Contudo, no<br />
correr do século XVI, essa visão idílica do Novo Mundo foi sendo deixada de lado por uma<br />
6 Ibid., p. 25.<br />
7 Ibidem.<br />
8 SEED, Patrícia. Cerimônias de Posse na conquista européia do novo mundo (1492-1640). Tradução de<br />
Lenita R. Esteves. São Paulo: UNESP, 1999, p. 256.<br />
9 OLIVEIRA. Antonio Carlos & VILLA, Marco Antonio. Cronistas do Descobrimento. São Paulo: Ática,<br />
1999, p. 10.<br />
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