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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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A partir dessa explanação, pode-se dizer que são quatro as principais diferenças que<br />

existem entre as descrições dos <strong>cronistas</strong> <strong>leigos</strong> – Staden e Knivet – e dos <strong>religiosos</strong> –<br />

Nóbrega e Anchieta –, sendo que mesmo entre eles, ou seja, entre Staden e Knivet e entre<br />

Anchieta e Nóbrega, há diferenças entre as descrições – cada um deles enfatiza mais, um<br />

aspecto deste ritual. Essas diferenças referem-se mais a ocultação, ou seja, a não descrição dos<br />

padres de certos detalhes da cerimônia, não porque eles não tenham visto tais detalhes, mas<br />

porque não lhes interessava em narrar.<br />

A primeira diferença notada refere-se que os padres não relatam quase nada sobre o<br />

que acontece antes da morte em terreiro ao contrário dos <strong>leigos</strong> que detalham as cerimônias de<br />

preparação para a morte do prisioneiro; a segunda diferença refere-se que os <strong>religiosos</strong> não<br />

descrevem nada sobre os acontecimentos depois da morte do prisioneiro, ou seja, a preparação<br />

e o consumo do corpo do prisioneiro, ao contrário dos <strong>leigos</strong> que descrevem a consumo do<br />

morto com detalhes, inclusive apresentado regras para a distribuição e o consumo de sua<br />

carne; a terceira diferença existente refere-se que os padres não citam nenhum motivo para os<br />

índios matarem e consumirem a carne dos prisioneiros, ao contrário dos <strong>leigos</strong> que relatam<br />

que os índios procedem dessa forma, não para consumir carne humana, mas por grande<br />

hostilidade de seus inimigos (vingança); a quarta diferença refere-se à morte em si, pois os<br />

padres a descrevem de forma simples sem toda aquela pompa, apenas descrevendo que os<br />

índios trazem as vítimas para terreiro, onde lhes era quebrada a cabeça com um grande pau,<br />

ao contrário dos <strong>leigos</strong> que a descrevem detalhadamente, mostrando que ela era uma<br />

cerimônia altamente ritualizada e organizada, principalmente num de seus aspectos centrais<br />

que é o diálogo travado entre vítima e matador, o qual perpetua e renova o ciclo de vingança.<br />

b) Há referência à antropofagia funerária?<br />

A procura de referências sobre a antropofagia funerária nesses relatos, revelou que três<br />

desses quatros <strong>cronistas</strong>, a saber, Staden, Anchieta e Nóbrega não fazem referência alguma,<br />

nem mesmo apresentam um indício da existência da prática desse tipo de antropofagia entre<br />

os indígenas brasileiros, nem entre tupis nem entre tapuias. Em contrapartida, Knivet, mesmo<br />

não se referindo diretamente a prática da antropofagia funerária, nos apresenta um forte<br />

indício de sua existência/prática entre os indígenas designados de tapuias.<br />

Esse indício aparece quando Knivet descreve uma tribo indígena na região da Bahia,<br />

que ele chama de mariquitás, e relata que outros índios os chamam de tapuias, mas ele não diz<br />

que índios eram esses, a qual tribo (etnia) pertenciam, sendo que podemos aventar que eram<br />

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