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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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morte do prisioneiro em terreiro, enfatizando o diálogo travado entre a vítima e o matador,<br />

também descreve com detalhes o modo como os índios preparavam o corpo do prisioneiro e o<br />

destrinchavam, sendo que cada parte do corpo era dado a um grupo (mulheres, crianças,<br />

homens e etc.), ou seja, Knivet também descreve regras para a distribuição do corpo do<br />

prisioneiro. O segundo caso descrito por Knivet refere-se à morte de um prisioneiro de guerra<br />

indígena. Nesse caso, Knivet relata de maneira sucinta alguns preparativos antes da execução<br />

do prisioneiro, passando a narrar (novamente), com grandes detalhes a morte do prisioneiro<br />

em terreiro e o modo como preparavam e consumiam a carne do prisioneiro morto, além<br />

disso, atribuí a esse ato uma significação, pois diz que os índios acreditavam que a carne<br />

humana os torna fortes e valentes (absorção/incorporação das características do morto). Pode-<br />

se dizer que Knivet também têm uma visão pragmática da antropofagia, pois em nenhum dos<br />

dois casos que descreve pormenorizadamente, ele descreve tal ritual com requintes de<br />

crueldade ou diz que tal ato vai contra a natureza humana. Ao contrário do que descreve dos<br />

portugueses, embora esses não comessem carne humana, ele comumente aponta para a<br />

crueldade com que os portugueses tratavam os indígenas (também os escravos africanos);<br />

Nóbrega descreve o ritual antropofágico pormenorizadamente em apenas uma ocasião<br />

(levando em conta, apenas as suas cartas que foram objeto de análise neste trabalho), sendo<br />

que o prisioneiro(s) executado(s) é (são) de origem indígena. Nesse caso, Nóbrega não relata<br />

nada acerca da preparação da matança, apenas que tentou evitá-la, mas não consegui, pois os<br />

índios tinham convidados seus parentes e amigos (aliados) e que estes já se encontravam no<br />

local. Também pede para batizar os prisioneiros, o que lhe é negado sob a alegação dos índios<br />

de que, se os prisioneiros fossem batizados, os que comessem de sua carne morreriam –<br />

embora os índios vigiassem os prisioneiros, Nóbrega conseguiu batizá-los com um pano/lenço<br />

molhado em água benta. Durante a matança em terreiro, Nóbrega relata que os índios pediram<br />

que fossem postos às vistas do padre Nóbrega, para que este encomendasse suas almas para o<br />

céu, sendo que os índios receberam os golpes de maça de joelhos com as mãos levantadas<br />

para o céu chamando pelo nome de Jesus. Nóbrega não relata nada sobre o modo como<br />

preparavam e distribuíam a carne do morto, sua descrição se encerra quando os índios<br />

recebem a pancada na cabeça, não a cena (descrição) do consumo de sua carne. Desse modo<br />

podemos dizer que o Nóbrega não relata a prática antropofágica pormenorizadamente, não<br />

porque não quer, ou porque não o tenha visto, pois temos que ele esteve presente em um<br />

desses rituais e viu como os prisioneiros eram mortos, mas porque isso não lhe interessava<br />

narrar, pois esse ritual ia contra o seu objetivo que era converter os índios ao cristianismo,<br />

sendo que para tal fim, Nóbrega dizia que era necessário extirpar alguns costumes dos índios,<br />

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