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cronistas leigos, cronistas religiosos ea antropafagia

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Sobre a zoologia fantástica e a geografia fantástica, Anchieta não relata nada, pois não<br />

descreve nenhum animal fantástico, ou reencontra algum animal místico já conhecido na<br />

literatura européia, como também não faz nenhuma referência a reinos lendários, mesmo que<br />

sejam eles cristãos, como seria o caso do reino do Preste João.<br />

Com relação ao maravilhoso, Anchieta, não se utiliza dele, no sentido de relatar<br />

façanhas fantásticas, muito menos para descrever riquezas extraordinárias – contudo descreve<br />

uma única vez que os padres têm quase certeza que existem metais no interior, sendo que essa<br />

alusão de Anchieta refere-se a que isso trará muitos colonos e junto à justiça e o governo, o<br />

que colocará os índios em sujeição para o trabalho catequético dos padres:<br />

127<br />

“Uma cousa desejamos aqui todos e pedimos muito a Nosso Senhor, sem a qual não se poderá fazer<br />

fruto no Brasil, que desejamos, e é que esta terra toda seja mui povoada de cristãos que a tenham sujeita,<br />

porque a gente é tão indômita e está tão encarniçada em comer carne humana e isenta em não<br />

reconhecer superior, que será mui dificultoso ser firme o que se plantar, se não houver este remédio, o<br />

qual continuamente pedem os padres e irmãos a Nosso Senhor e estão mui consolados por haver quase<br />

certeza que pela terra a dentro se descobrem muitos metais, porque com isto se habilitará muito esta<br />

terra, e estes pobres índios, que tão tiranizados estão do demônio, se converterão a seu Criador” 74 .<br />

– mas no sentido de narrar às manifestações do poder de Deus, os milagres por ele r<strong>ea</strong>lizados,<br />

e mostrar que Deus estava ao lado dos padres. Nesse sentido, Anchieta relata que na guerra<br />

contra os tamoios e franceses, os mesmos fugiram depois de uma cruel batalha não por causa<br />

da superioridade dos portugueses, mas por causa “que é de crer que muitos fugiram mais com<br />

o espanto que lhes pôs o Senhor que com as forças humanas” 75 . Sobre os milagres r<strong>ea</strong>lizados<br />

nesta terra, Anchieta descreve em sua “Informação do Brasil e de suas Capitanias (1584)”,<br />

uma fonte, cuja água brotava debaixo de um altar:<br />

“Em Porto Seguro, uma légua da povoação dos portugueses, se fez a casa de Nossa Senhora D’Ajuda,<br />

onde milagrosamente ela deu uma fonte d’água que parece proceder de debaixo de seu altar, onde se<br />

fizeram e fazem continuamente muitos milagres e é casa de grandíssima romaria e devoção, porque<br />

quase todos quantos enfermos lá vão e se lavam com aquela água saram, e os que não podem lá ir<br />

mandam por ela e bebendo-a faz o mesmo efeito” 76 .<br />

Outro ponto que pode ser inserido dentro desse maravilhoso voltado a esfera religiosa,<br />

são as relíquias que:<br />

“(…) vieram ao Brasil relíquias muito notáveis, a saber: o lenho da Cruz, seus cabeças das Onze Mil<br />

Virgens e as relíquias de São Sebastião, S. Braz. S. Cristóvão, dos Mártires Tebeus e de outros muitos<br />

santos, ‘Agnus Dei’ e Contas bentas, que estão repartidas pelos Colégios e Casas da Companhia, e com<br />

as quais se excitou muito a devoção dos moradores do Brasil e se tem feito muito proveito nas almas” 77 .<br />

74 Ibid., p. 8. Grifos do autor.<br />

75 ANCHIETA, Pe. José de. Carta ao Padre Geral, de São Vicente, em 1° de junho de 1560. Op. cit., p. 110.<br />

76 ANCHIETA, Pe. José de. Informação do Brasil e de suas Capitanias (1584). Op. cit., p. 32.<br />

77 Ibid., p. 45.

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