Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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diante de cada história. Ao ser identificada como algo real, a fala <strong>do</strong> <strong>do</strong>utor deveria<br />
possuir um peso maior nos ouvintes, o que não ocorre. Do que conta Mandelet, sab<strong>em</strong>os<br />
que Edna não se impressiona com a narrativa. Ou seja, o público, identifica<strong>do</strong> <strong>em</strong> Edna,<br />
não responde favoravelmente às palavras <strong>do</strong> médico. Já o que conta a protagonista,<br />
<strong>em</strong>bora seja tu<strong>do</strong> fruto de sua imaginação, t<strong>em</strong> uma resposta favorável de to<strong>do</strong>s os que a<br />
escutavam: “Mas cada palavra ardente parecia real aos que ouviam” 84 (CHOPIN, 1994, p.<br />
95). Edna t<strong>em</strong> o poder de tornar real o ficcionaliza<strong>do</strong>, ao fazer com que to<strong>do</strong>s sintam a<br />
narrativa como algo presentifica<strong>do</strong>:<br />
Eles [os que a ouviam] podiam sentir o hálito quente da noite meridional;<br />
podiam ouvir o avanço suave da piroga através da água que reverberava sob o<br />
luar, o bater das asas <strong>do</strong>s pássaros, alçan<strong>do</strong> voo espanta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s juncais nos<br />
charcos de água salgada; podiam ver as faces <strong>do</strong>s amantes, pálidas, encostadas,<br />
extasiadas <strong>em</strong> absorto olvi<strong>do</strong>, vagan<strong>do</strong> para o desconheci<strong>do</strong> 85 (CHOPIN, 1994,<br />
p. 95).<br />
E no final, as duas narrativas mostram <strong>do</strong>is destinos distintos para as duas<br />
mulheres: a volta para o lugar que foi aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> e a fuga total de um lugar para viver<br />
<strong>em</strong> outro e <strong>em</strong> uma nova companhia. Pon<strong>do</strong> <strong>em</strong> contraste as duas narrativas, o que é<br />
conta<strong>do</strong> por Edna pode parecer, à primeira vista, identifica<strong>do</strong> como mais uma criação<br />
ingênua. Mas aparecen<strong>do</strong> logo depois <strong>do</strong> que conta o médico, a fala de Edna ganha<br />
grandiosidade, pois ela é, primeiramente, uma resposta ao que Mandelet acabara de narrar<br />
e é, também, uma forma de Edna se posicionar como a responsável por criar o seu<br />
próprio destino e/ou a sua própria narrativa. A maneira como Edna se posiciona diante<br />
<strong>do</strong> que narra, com intensidade e paixão, fazen<strong>do</strong> com que to<strong>do</strong>s se deix<strong>em</strong> vivenciar o<br />
que está sen<strong>do</strong> narra<strong>do</strong>, mostra que ela é capaz de forjar a realidade e iludir os que a<br />
cercam. O leitor, ao contrário <strong>do</strong> que ocorre com os ouvintes de Edna, não se deve deixar<br />
impressionar pelo texto cria<strong>do</strong> pela protagonista, pois ele não oferece uma possibilidade<br />
real para que Edna consiga resolver o grande impasse de sua vida. De qualquer forma,<br />
esta cena apresenta a protagonista de O <strong>Despertar</strong> tecen<strong>do</strong> sua própria narrativa, dan<strong>do</strong> voz<br />
ao seu discurso articula<strong>do</strong>, influencian<strong>do</strong> os que a cercam.<br />
84 “But every glowing word se<strong>em</strong>ed real to those who listened” (CHOPIN, 2006, p. 953).<br />
85 “They could feel the hot breath of the Southern night; they could hear the long sweep of the pirogue through the<br />
glistening moonlit water, the beating of birds’ wings, rising startled from among the reeds in the salt-water pools;<br />
they could see the faces of the lovers, pale, close together, rapt in oblivious forgetfulness, drifting into the unknown”<br />
(CHOPIN, 2006, p. 953).<br />
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