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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

estava ali a <strong>do</strong>is passos. Da Casa Azul, ouvia-se o bater das ondas na praia, o g<strong>em</strong>er fun<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> mar que nas noites escuras era soturno. A lagoa falava baixinho, cantava mais que<br />

g<strong>em</strong>ia” (REGO, 1993a, p. 5).<br />

Nesse romance <strong>em</strong> especial, as águas, simbolizadas na metáfora da água-mãe, uma<br />

sobra líquida das produções das salinas, representam essencialmente a morte. É esta<br />

imag<strong>em</strong> que sobressai nas duas últimas referências às águas que o romance de José Lins<br />

<strong>do</strong> Rego apresenta. Na penúltima referência, assim o narra<strong>do</strong>r fala das águas da salina:<br />

“Desciam para a lagoa os restos da água-mãe; velhas águas podres, s<strong>em</strong> préstimos. Fedia.<br />

Voltavam elas outras vezes à lagoa. Era a água que já dera tu<strong>do</strong>, a água morta, a água-mãe<br />

das salinas” (REGO, 1993a, p. 240). O romance Água-mãe finaliza com uma comparação<br />

significativa entre a morte simbólica da personag<strong>em</strong> D. Luísa, que perdera uma filha nas<br />

águas da lagoa Araruama, e o líqui<strong>do</strong> s<strong>em</strong> vida e s<strong>em</strong> utilidade que escorria das salinas:<br />

“[Paulo] Aproximou-se da mãe [Luísa], pôs a mão na cabeça e chamou-a <strong>em</strong> voz alta. D.<br />

Luísa não ouviu. Chamou outra vez. Abalou-a e ela olhou para o filho. Era um resto de<br />

mulher, o que ele via. Parecia a água-mãe, descen<strong>do</strong> para a lagoa” (REGO, 1993a, p. 242).<br />

Longe de trazer a vida, ligação mais próxima à ideia que o vocábulo “Mãe” <strong>do</strong> título<br />

r<strong>em</strong>ete, as águas que corr<strong>em</strong> neste romance traz<strong>em</strong> a morte.<br />

No romance <strong>em</strong> questão, Água-mãe, a água é exaltada levan<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> consideração<br />

seu caráter simbólico da morte. A escolha desse senti<strong>do</strong> simbólico da água, nesta obra <strong>do</strong><br />

escritor, pode ser entendida se levarmos <strong>em</strong> conta a presença significativa que a morte<br />

t<strong>em</strong> <strong>em</strong> outros romances desse autor paraibano. Segun<strong>do</strong> Virgínius da Gama e Melo, José<br />

Lins seria “[...] um romancista francamente <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pela influência artística e vitalizante<br />

da morte” (MELO, 1980, p. 75). Ainda nas palavras de Virgínius da Gama e Melo:<br />

José Lins <strong>do</strong> Rego não admite a morte pura e simples. Para que se morra é<br />

preciso também que desapareça toda uma organização que aquela vida<br />

representa, fican<strong>do</strong> assim a morte não com aquele senti<strong>do</strong> individual e único<br />

[...], mas com amplitude que lhe transcende os limites. Daí aquele senti<strong>do</strong><br />

também de continuação de vida, de substituição de formas de vida, a morte<br />

fican<strong>do</strong> como uma modificação, não como uma extinção (1980, p. 101).<br />

Em <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, José Lins <strong>do</strong> Rego explora a carga s<strong>em</strong>ântica da metáfora da água<br />

de diferentes maneiras, ao criar um espaço líqui<strong>do</strong> de grande influência no<br />

comportamento da protagonista <strong>do</strong> romance. Esta é a narrativa de Lins <strong>do</strong> Rego que mais<br />

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