Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
____________________________________________________________________<br />
num ambiente <strong>em</strong> que a figura da mulher viúva <strong>do</strong>minava, a escritora conviveu com a<br />
possibilidade das mulheres administrar<strong>em</strong> seus bens, dirigir<strong>em</strong> suas famílias e tornar<strong>em</strong>-se<br />
independentes econômica e socialmente, por não se encontrar<strong>em</strong> sob o jugo da figura<br />
masculina. Nesse ambiente de mulheres viúvas, grande parte da educação de Kate Chopin<br />
foi feita por sua bisavó, Madame Athenaise Charleville Faris, a primeira mulher a se<br />
divorciar na cidade de Saint Louis, no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Missouri, e a ser mãe de um filho de pai<br />
desconheci<strong>do</strong>. O fato de ter cresci<strong>do</strong> cercada por mulheres fortes e independentes se<br />
reflete na obra da autora, uma vez que representações desse padrão <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> são<br />
recorrentes <strong>em</strong> toda sua obra literária, seja ela contos ou romances. Tuire Vlakeakari<br />
afirma que “a consciência [de Chopin] de suas fortes e não convencionais ancestrais <strong>do</strong><br />
sexo <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> revela sua exposição a influências que facilitaram uma distância crítica <strong>do</strong><br />
papel social comumente associa<strong>do</strong> às belles <strong>do</strong> Sul” 7(2003, p. 195 – 196).<br />
O trabalho com a escrita começou ainda quan<strong>do</strong> Kate Chopin era jov<strong>em</strong>, com um<br />
texto chama<strong>do</strong> “Emancipation. A life fable”, provavelmente escrito entre os anos de 1869<br />
e 1870. Mas ela só se dedicou realmente à literatura quan<strong>do</strong>, depois de perder o mari<strong>do</strong>,<br />
de ficar viúva com seis filhos, e de ver a mãe morrer, o médico da família – Frederick<br />
Kolbenheyer – a aconselhou a escrever como forma de terapia (CHOPIN, 2003, p. x).<br />
Em 1889, a escritora man<strong>do</strong>u seu primeiro trabalho para a revista Home Magazine,<br />
mas o texto não é publica<strong>do</strong>: “O editor achou o trabalho b<strong>em</strong> escrito, mas fez objeção a<br />
um incidente ‘não agradável’ na estória” 8 (SEYERSTED, 1997. p. 24). O fato de o editor<br />
ter identifica<strong>do</strong> um aspecto desagradável no texto de Chopin aponta para uma<br />
característica da recepção <strong>do</strong>s leitores da época que marcará o trabalho mais denso da<br />
autora. Ou seja, é a constatação de que seus textos traz<strong>em</strong> t<strong>em</strong>as ou incidentes que<br />
transgrediam as expectativas <strong>do</strong> público puritano que tirou a autora <strong>do</strong> cenário literário<br />
americano décadas mais tarde.<br />
No mesmo ano de 1889, ela consegue publicar duas outras estórias, “Wiser than a<br />
god” e “A Point at Issue”, respectivamente <strong>em</strong> Philadelphia Musical Journal e St. Louis Post-<br />
Dispatch. Em 1890, ela escreve o seu primeiro romance – Culpa<strong>do</strong>s, mas não consegue<br />
7 “Chopin's awareness of her strong and unconventional f<strong>em</strong>ale ancestors reveal her exposure to influences which<br />
facilitated a critical distance to the social role customarily assigned to Southern belles”.<br />
8 “The editor thought it well written, but objected to a ‘not desirable’ incident in the story”.<br />
33