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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

é constante apenas nos romances cujo narra<strong>do</strong>r é de terceira pessoa. Quan<strong>do</strong> qu<strong>em</strong> narra<br />

é um personag<strong>em</strong> masculino, a mulher é totalmente silenciada. Nos romances de primeira<br />

pessoa, José Lins <strong>do</strong> Rego traz para a urdidura da narrativa to<strong>do</strong> um sist<strong>em</strong>a de valores<br />

patriarcais que reforçam a supr<strong>em</strong>acia <strong>do</strong> masculino, mostran<strong>do</strong> as mulheres como<br />

subjugadas, desprovidas de ações, pensamentos e vontades. Elas são apenas projeções <strong>do</strong><br />

narra<strong>do</strong>r masculino que “idealiza a mulher dentro de um certo modelo de f<strong>em</strong>inilidade,<br />

petrifica-a, enquanto objeto de desejo <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r” (BRANDÃO, 2006, p. 31).<br />

Como aponta o estu<strong>do</strong> feito por Andrea Bühler, ao analisar a condição f<strong>em</strong>inina<br />

no romance Fogo morto, “[é] verdade que os homens são os principais atores desta ação,<br />

mas o senti<strong>do</strong> das ações masculinas ou o contraponto reflexivo delas se encontram [sic]<br />

nas personagens f<strong>em</strong>ininas” (2005, p. 97). A afirmativa de Bühler reforça o que expomos<br />

acima. Como v<strong>em</strong>os, José Lins retrata o contexto social patriarcal, que relegava à mulher<br />

um papel de passividade, mas, ao mesmo t<strong>em</strong>po, por dar voz, ainda que via discurso<br />

indireto-livre, a algumas destas mulheres, ele consegue mostrar que elas têm um papel tão<br />

importante quanto o <strong>do</strong>s homens, uma vez que elas dialogam com todas as ações<br />

masculinas, mostran<strong>do</strong> que o que é pratica<strong>do</strong> pelos homens representa ações que os<br />

levam, juntamente com estas mulheres, à ruína. Nesse jogo de foco narrativo – destaque<br />

das ações <strong>do</strong>s homens e das vozes das mulheres – o romance cria um <strong>em</strong>bate nas relações<br />

de gênero e, como ainda aponta Bühler,<br />

Graças à voz imparcial <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r, que penetra na dimensão da interioridade f<strong>em</strong>inina<br />

encaminhan<strong>do</strong> sua consciência, é possível pensar o seu ser longe da visão exteriorizante<br />

<strong>do</strong>s homens, longe das máscaras sociais. O narra<strong>do</strong>r toma, por assim dizer, a palavra<br />

indefesa e s<strong>em</strong> reciprocidade das mulheres no plano objetivo da história e a reveste de<br />

uma nova significação. Precisamente, as vozes sufocadas, latentes das mulheres, aquelas<br />

que não se objetivam na história, são as que mais importam ao narra<strong>do</strong>r (2005, p. 112).<br />

Mas o destaque da<strong>do</strong> ao <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> é maior no romance <strong>em</strong> questão, Fogo morto,<br />

quan<strong>do</strong> v<strong>em</strong>os diferentes tipos de mulheres na trama. Mesmo assim, não se pode negar<br />

que José Lins, com toda sua carga de valorização <strong>do</strong> pensamento <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>, não dá à<br />

figura f<strong>em</strong>inina o mesmo status de agente da ação, que os homens possu<strong>em</strong>. Na verdade,<br />

como afirma Sacramento, ao analisar os romances Menino de engenho, Doidinho, Banguê, O<br />

moleque Ricar<strong>do</strong>, Usina, Fogo morto e o livro de m<strong>em</strong>órias Meus verdes anos, “as primeiras<br />

narrativas de JLR traçam a figura f<strong>em</strong>inina <strong>em</strong> perfeita harmonia com a NORMA pré-<br />

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